quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

QUIS SER … MAS NUNCA FUI!

 

Ao longo de uma vida desregrada, acelerada, desviante, inconstante e intrigante, plena de surpresas boas ou más. Muitos dos sucessos foram conseguidos com esforço, dedicação e glória, e outros tantos fracassos aconteceram com esforço, dedicação, mas sem glória.

Independentemente da idade, os sonhos e desejos pessoais e profissionais, ocorrem, decorrem e, por vezes, socorrem-nos o ego. Assim sendo, para além das criações empresariais e pessoais, houve mais que muitos falhanços.

Além do que quis ser, o mais importante é o que fui, o que sou e o que poderei ser ou serei. O que aprendi com os falhanços e as frustrações foram-me úteis no quis ser, fui e sou. A vida pode ser boa.

Quis ser… Ciclista. Várias vezes tentei, fazer meia dúzia de metros, mas tralhava, no imediato. Caí mais vezes do que me sentava no selim. Desisti e dediquei-me a outra coisa qualquer.

Quis ser… Futebolista. Casa Pia, a pedido do papá, Atlético, Sintrense, três tentativas de imposição, três fracassos redundantes. Desisti e dediquei-me a outra coisa qualquer. Valeu a experiência.

Quis ser … Astronauta. Sem idade, sem peso, com deficiência e burro p´ra caraças, ficou a ideia. Desisti e dediquei-me a outra coisa qualquer.

Quis ser … Cantor. Nem solfejo, nem ritmo, nem o caraças, com esta voz de tubarão. Duro de ouvido ficou a intenção de treinar no duche. Não saí ao pai, pois esse ainda se desenrascava num coro paroquiano, onde no meio daquela malta toda, o desafinar passava despercebido. E, também, cantou no coro da Rádio Renascença, o que se calhar demonstra alguma qualidade, digo eu. Desisti e dediquei-me a outra coisa qualquer.

Quis ser … Piloto de Automóveis. Zarolho e atrofiado, lento no raciocínio e nervoso, nunca iria conseguir a mais de 40 km/h. Também como nunca tirei a carta, não adiantava insistir nessa mania. Desisti e dediquei-me a outra coisa qualquer.

Quis ser … Cozinheiro. Sempre gostei mais de comer do que fazer, o que convenhamos não seria uma qualidade prioritária para qualquer patrão. Experimentei, mas nunca avancei com a profissão. Desisti e dediquei-me a outra coisa qualquer.

Quis ser… Bordaleiro. Nunca tive jeito para negócio com gajas, pelo que nunca consegui ter um bordel. Perco-me sempre com a mercadoria e com a variedade existente no produto, pelo que pensei, pensei em ser dono do espaço e gerente de produto, mas desisti e dediquei-me a outra coisa qualquer.

Quis ser … Marinheiro. A enjoar com os balanços dos navios, barcos, ou cais, era impensável andar de barco durante mais de meia hora. Por isso, entre enjoos e vómitos contidos, nunca mais tive vontade de ser embarcadiço. Desisti e dediquei-me a outra coisa qualquer.

Quis ser… Comando. Depois de inapto na tropa, tentei os comandos e falhei. Nem mesmo para escuteiro servi, por ser demasiado imberbe. Regras, cumprimento de ordens, respeito à autoridade? Nem, pensar. Desisti e dediquei-me a outra coisa qualquer.

Quis ser … Programador Informático. Mau aluno a matemática, desconcentrado, com falta de vista e impaciente, descobri que não dava, de todo, para trabalhos que exigissem concentração e método. Desisti e dediquei-me a outra coisa qualquer.

Quis ser … Arquitecto. Por influência de um primo e pelo gosto no desenho, pensei nisso, mas sem conseguir fazer desenho à vista e por não ter jeito nenhum para o desenho técnico, foi uma ideia moribunda à nascença. Desisti e dediquei-me a outra coisa qualquer.

Quis ser … Advogado. Defender por defender, ser contrário aos meus princípios é algo complicado. Mesmo com o guito na ordenança, e o vislumbre de uma vida desafogada por dominar o hermetismo da lei, me levaram a não optar por esta profissão, mesmo com a grande maioria dos testes vocacionais o indicarem. A minha justiça é diferente da dos outros. Desisti e dediquei-me a outra coisa qualquer.

Quis ser… Actor. Mas, como nunca gostei de ser obrigado a reprimir a espontaneidade, a gerir o improviso e a estupidez, também, e como nunca me adaptei às regras dos argumentos e dos diálogos, foi complicado, até porque ao ser frontal, e não sonso nunca poderia fazer de conta. O pai deu o exemplo mas, deisisti e dediquei-me a outra coia qualquer.

 

Peça O  Processo de Jesus, Maio de 1989, Salão da Igreja Paroquial da Amadora. O papá (Mário Teixeira) em acção.

Quis ser… Paramédico ou Bombeiro. Sempre achei que o poder ajudar os outros e voluntariamente ajudar a salvar, pessoas ou bens é uma missão generosa e digna. Mas, se estou sempre dependente de alguém devido aos constrangimentos de saúde que se agravaram ao longo da vida, como seria possível ter disponibilidade para participar no salvamento ou ajuda, aos outros? Claro que era difícil. O mais próximo, foi a carreira paralela de Podólogo e a possibilidade de ter sido Farmacêutico. Desisti e dediquei-me a outra coisa qualquer.

Quis ser… Muitas coisas mais, mas que nunca me consigo lembrar, tal foi a velocidade de pensar, na coisa que queria ser. De algumas, não desisti e não me dediquei a outra coisa qualquer, como quis ser… o que acabei por ser: Filho; Escritor; Jornalista; Radialista; Formador; Professor; Gerente; Gestor; Político; Compositor; Fotógrafo; Pastor Evangélico; Designer; Criador artístico; Investigador de informação;  Bacharel; Racista; Machista; Fascista; Benfiquista; Implicativo; Pai; Marido; Amante e muito mais. Isto quis ser… e fui. E sou. E continuarei a ser …

Podem recordar, tudo isto e muito mais, nalguns dos  posts já editados n’OBLOGDOKOTA. “O Outro Ego do Outro Eu” de 30 de Junho de 2020; “A Voragem do Querer Saber (Auto-Retrato)” de 30 de Junho de 2020; “A Quem Devo No Que Me Tornei” de 29 de Janeiro de 2020; “A Cabala da Vida” de 09 de Outubro de 2019; “A Fase Radialista” de 02 de Outubro de 2019; “A P.D.I.” de 27 de Setembro de 2019. 

Mas, quiçá, o melhor é lerem ou relerem todos os posts aqui publicados, bem como aceder, se quiserem aos seguintes sites, e saber muita coisa boa e má a respeito do escriba:

https://oblogdokota.blogspot.com

https://xokmagazineblog.wixiste.com/xokmagazine

https://issuu.com/lusorecursos/doc

Em todos estes conteúdos existe informação, que faz parte de um imenso puzzle que é a minha vida. Enfim, sempre são cinquenta e nove anos vividos intensamente, plenos de experiências e cogitações. Perante isto, resta-me acrescentar que fui e sou feliz. Muito ou pouco, não interessa. Serei feliz até ao fim, na companhia da minha mulher? Apenas o futuro o dirá. Aguardemos. Quero ser … vivo até poder.

Texto: Fernando de Sucena

Imagem:Mário Fernando - Arquivo/Produtores Reunidos

Sem comentários:

Enviar um comentário