quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

AS MINHAS FUTEBOLADAS JOVENS

 

Quando era jovem e jogava à bola fazia testes para uma data de clubes na tentativa de me inscrever na Federação e ver as jogatanas dos clubes grandes à borla, com o cartão da Federação. Ah, pois! Fiquei pelos clássicos: Atlético Clube de Portugal, onde tive o privilégio de ser orientado pelo falecido Mário Wilson, que me tirou todas as esperanças de fazer carreira como profissional; Casa Pia Atlético Clube (a pedido do papá, eis aluno da instituição) e Sport União Sintrense (para estar perto de um namorico da altura, a Sónia)

Treinava, treinava, e nunca era aprovado, para as equipas oficiais. No entanto, comia, convivia e utilizava as instalações dos clubes e jogava em peladinhas treino, muitas vezes com os seniores.

Lembrei-me disto, porquê? Por causa do Covid 19. É que tal e qual como agora, não havia ninguém a assistir a estas tropelias de mal tratar a redondinha.

Quanto muito, meia dúzia de pessoas, espalhadas pelas bancadas a comerem umas sandochas, a beberem umas minis e a chamar toda a panóplia de nomes aos jogadores, candidatos a jogadores ou coisa que os valesse. Uma ou duas mães fanáticas que improperavam sempre que lhe espetávamos com o rebento no chão arenoso, pelado. A verdade é que por vezes o tralho era doloroso, naquela mistura de areia e gravilha, mas era assim.

Muitas vezes treinávamos em campos emprestados, como o da Picheleira e nesses jogos a coisa era brava. Sempre que jogávamos apenas para afinar as pontarias e os passes, aquela peleja era bairrista para caraças. Porrada à fartazana, canelada e puxões de pelos das pernas, e encostos nas tomadas nos saltos de cabeça para quebrar a agressividade, suponhamos nós.

O que sucedia, nestas situações, era o inverso e era todos ao molho e o crescimento das reacções idênticas às de João Pinto no Mundial de 2002, aos 26 minutos, ou a de Zinedine Zidane, depois de agredir Materazzi, quatro anos depois, em 2006.

Apesar de não gostar de muitos daqueles gajos que me faziam concorrência dentro das equipas, quando a coisa fervia, acabava por tomar o partido dos meus colegas de equipa. Esta empatia, inexplicável, é o segredo do desporto. Lindo! No fim, lá saíamos com mais carne viva das brigas, do que propriamente pelo esfolamento causado no chão do campo. 

Ao invés de me preocupar e ficar afectado, como sempre me considerei inteligente, percebi, com a experiência destas coisas de tentar ser futebolista, que podia com este triste espectáculo, conseguir uma excelente fonte de receita e conhecimento de pitas que iam aparecendo, por lá a fazer de pau-de-cabeleira, às irmãs e namoradas dos outros jogadores, podendo, assim, ser considerado um exibicionista.

No entanto, descobri que, quanto mais vezes, eu caísse ao chão e canelada levasse, tanto mais as meninas ficavam impressionadas. Portanto, cada corte defensivo que eu fizesse, cada acrobacia, cada falhanço, era compensado pelas críticas meigas das miúdas das bancadas, e muitas delas eram do bairro onde íamos e não da minha equipa. Graças a isso, ganhei uma alcunha linda: O Sempre-em-Pé …

Jogava a defesa central, por causa da altura, pois com 16/17 anos tinha um metro e setenta, e algum jeito, para atrapalhar os inimigos nos cruzamentos altos, e correr que nem louco com a bola por ali afora, até ser travado à bruta por outro equipado da outra equipa. Andei nisto uns dois anos, até que deixei esta modalidade desportiva meia mariconça, e passei para algo mais bruto, violento, doloroso, machista e sentimental. Râguebi.

Mas, disto falarei noutra ocasião. Não resisto, contudo, a alertar o intrépido leitorado, para o facto de ter durado pouco e, uma vez mais, nunca ter atingido os níveis mínimos para poder ser praticante federado. O que mais gostei, foi da entreajuda colectiva, da honra e das avassaladoras refeições que tinha de comer para manter um peso elevado. Ou seja, passei de uns escanzelados 75 quilos, para umas porcinas 8 arrobas, menos um quilinho. (Uma arroba é aproximadamente 15 quilos). 

Curiosamente, era mais ágil e rápido com este brutal peso, do que com o normal, das minhas aventuras futebolistas.

Concluindo. Não se perdeu um bom futebolista, nem se ganhou um bom profissional de coisa nenhuma. A minha vida foi assim, e assim foi.

Texto: Fernando de Sucena

Imagem: Google

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