Por motivos de saúde que se arrastam no tempo, mas que me
permitem uma adaptação ao futuro que não augura nada de bom, tenho visto cinema
em quantidade graças à televisão por cabo, à antiga, e não via modernices tipo
Netflix que criam dependência, e tornam os nomofóbicos ainda mais aditados.
Como estava a referir, mercê da possibilidade de ter imenso tempo livre, tenho
mantido o modo zapping estável no FOX MOVIES.
Por lá, desde Dezembro, o canal tem vindo a disponibilizar
montes de filmes de anos da década de 70 e do princípio da de 80. Dessa época
recordo M.A.S.H.; a trilogia Porky’s; Gelado de Limão (todos os seis filmes da
série judaica) os quais vi-os ao vivo e a cores no cinema, e agora, tenho-os
revisto, aos poucos, nos imensos canais dedicados à sétima arte, mas sem
assinatura complementar.
Entre 1969 e 1979 (sobretudo, entre 1973 e 1976), o cinema
sobre terrorismo, prisões, tráfico de drogas, polícias e crimes eram parvos,
primários e engraçados. Tratava-se de filmes de segunda, aquilo que nem agora se
faz, nos chamados independentes amadores. Diálogos tipo frete, com o
contra-regra a ditar, os tiros que parecem marteladas, dobragens do piorio, o
lettering dos genéricos e das apresentações muito iguais, tipo “Os 3 Duques”,
os “Anjos de Charlie” ou, como todos os filmes desta época do Chuck Norris.
Mamas, vestidos sexys, mamas, calças justas em cima e à
boca-de-sino em baixo, amaricadas para caraças, como o John Travolta em
“Saturday Night Fever” com os rabiosques sexys e a ferramenta encolhida, mamas,
mortes a tiro sem sangue, mamas, carapinhas grotescas, mamas, bigodaças
farfalhudas, mamas, sexo consentido à fartazana, mamas, carros enormes, com
grandes suspensões e feios, mamas, peles com falso bronzeado, mamas, sapatos
(deles) com tacão alto, mamas, peitos peludos, mamas e mais mamas. Um fartote
de mamilos e tetas grandes, pequenas, subidas, descaídas, brancas pretas e
mistas, zonas púdicas cabeludas e um ar de frete das moçoilas, não nas cenas de
bunga-bunga, mas nas outras.
Para exemplificar isto, sugiro, se puderem, que vejam
Mulheres Acorrentadas, onde tudo aquilo, as guardas prisionais, as presas, a
história, o exército, numa América Latina rebelde e revoltada, tudo é surreal,
delirante e parvo. Mas não é o único.
O Último Tango em Paris, cortou com a simplicidade e serviu
de ligação a um outro tipo de filmes que são o oposto que também admiramos como
a Laranja Mecânica, num estilo subversivo, visionário e libertino como convinha
naqueles idos anos.
Mesmo nos filmes mais insuspeitos, como sejam os policiais
franceses, alguns do VW Herbie, alguns de Louis de Funès (o gendarme), os de
Terence Hill e Bud Spencer, ou os da série João Broncas (por exemplo, Os
Malucos da Bola) com Pippo Franco e Alvaro Vitali, os decotes até ao umbigo, as
mamas apertadas prestes a rebentarem, numa imagem que podemos rever na TVI com
a Drª Susana Garcia, na Crónica Criminal, e todo o tipo de vestimentas sensuais
e provocadoras eram a imagem de estilo deste louco e absurdo cinema, que em
última análise marcou o inicio da globalização do cinema. Independentemente do
país de origem, o conteúdo era semelhante ou muito direcionado ao público
masculino e jovem.
Estas películas, que tenho vindo a recordar, são muito
suaves face ao que se produz hoje em dia e, quiçá, por isso mesmo estão
guardadas airosamente nas lembranças cinéfilas do meu cérebro, machista,
sexista e atraído pelo género feminino. Pudera! Tantos anos a ver cinema não no
feminino, mas com o feminino em destaque, o gosto pelo outro sexo ficou marcado
na genética. Mais importante ainda. Com este tipo de imagem apelativa, o
respeito pela beleza da mulher e por aquilo que no fundo ela é foi muito mais
valorizado do que agora com a banalização da pornografia, do erotismo e da
debochada sociedade assexuada em que vivemos. Homem era homem e mulher era
mulher. Nem mais. Estes filmes parvos, marcaram uma época, é certo, mas também
marcaram uma atitude educada e respeitosa para com os outros e para com as
mulheres.
Vou continuar a ver e a rever esta fantochada, porque no
fundo, este cinema era feito com pessoas e não com máquinas, onde o desempenho
facial, mímico, corporal e intelectual marcavam a diferença entre um actor e um
participante em cenas filmadas. Pois é! Actores, só alguns o eram. Os outros
eram figurantes em filmes mais ou menos interessantes. Mas, feliz ou
infelizmente, fui criado com estes filmes, assim como muitos milhares dos que
poderão ler isto, e foi assim que começámos a gostar de cinema com todas as
opções divergentes que daí advieram.
A terminar, uma referência ao facto de não ser apenas a FOX
MOVIES a dar ao auditório a possibilidade de rever estres filmes. Outros
canais, sem pagamento obrigatório e complementar, também vão exibindo alguns
deles a espaços. Se quiser aproveite os que conseguir ver para se recordar do
seu passado infanto-juvenil. Recorde-os. Sim, também já foi filho e criançola,
ou não? Até porque o Vítor Espadinha, cantava que Recordar é Viver. Reviva e
viva mais feliz.
Texto: Fernando de Sucena
Imagens: Google
Nota: Aconselho, ainda assim a verem, ou reverem o filme que
lançou a Sophie Marceau, La Boum - A Primeira Festa (La Boum 2, não é tão
interessante). Muitas destas obras e situações foram debatidas, durante anos
com o parceiro do áudio-visual Carlos Vivo.

Sem comentários:
Enviar um comentário