segunda-feira, 16 de março de 2020

EUTANÁSIA E EGOÍSMO


Não pretendo opinar sobre uma coisa que considero pessoal. Cada pessoa tem o direito, desde que em plena consciência e sensibilidade orgânica, de fazer o que bem entender com a sua vida, com a sua própria vida.
Todavia, algumas questões pertinentes estão interligadas com a eutanásia. Sou, não dador e estou a tratar do Testamento Vital, porque julgo ser uma opção minha escolher o quero fazer com o meu corpo, alma e mente, pois, depois do empurrão dado pelos pais que levaram a que por acaso nascesse, passei a ser dono, não do destino, mas do, que fazer comigo. Quer seja bom ou mau o que fizer será sempre uma opção minha, tal como as subsequentes consequências.
De qualquer forma, julgo que o referendo não se justifica porque é um tema que deve ser enquadrado jurídica e criminalmente, mas não ser validado pela opinião pública. Veja-se o disparate que foi o Referendo ao Aborto. O aborto, sem certas condições devia ser crime. Ah pois! A mulher decide porque é dona do seu corpo e do interior do mesmo, mas uma pessoa que se sente desconfortável consigo mesma não pode decidir sobre ele. Porquê?
Não digo que saia mais barato e socialmente seja mais aceitável, encomendar a eliminação de quem esta em estado terminal a uns pretos marados ali da Cova da Moura ou uns branquelas drogados do Bairro do Cerco, no Porto, em que até se podem trocar as zonas de actuação, para um serviço mais eficaz. Não deixa de ser um assassinato mas sem interferência do estado. A família, neste caso, até pode receber o seguro de morte natural ou receber uma indemnização da APAV em caso de morte violenta.
Também, não podemos deixar de inferir que, para muita gente gosma e oportunista que pulula por aí, aproveitar a sobrevida dos familiares em estado terminal prolongado, permite aceder mais depressa à fortuna e à herança. E esta heim!
 
Por umas centenas de euros podemos fazer turismo em família, discretamente, e ir até à Suíça, à Dignitas e termos a assistência profissional para despachar o raio do empecilho, que está a gastar as poupanças de uma vida, sem que os herdeiros recebam todo o chorudo pé-de-meia com que contavam, caso não apliquem a eutanásia…
De qualquer forma, a questão deve ser sempre favorável à ideia de que quem decide é o próprio vivo. Mais ninguém. No meu caso, que me tornei um agnóstico depois de ter passado pelo ateísmo, mas sendo educado segundo a religião vigente, e bem, no Estado Novo, e sendo considerado um cidadão que vive numa pseudo-democracia fascizante, tenho o direito de escolha em relação a mim mesmo. Se eu quiser ser eutanasiado, porque não me deixam ser? Será porque o estado deixa de receber uma data de dinheiro de impostos, porque os falecidos não contribuem? Será porque toda a malta que vive à conta do SNS, deixa de ter clientes lucrativos? Ou será porque esta Democracia é uma ditadura ideológica?
Qualquer que seja a hipótese, o cidadão em plena consciência tem o direito de escolher como quer deixar este mundo dada vez cheio de doentes mentais (homossexuais, nomofóbicos, racistas, subsídio dependentes) …
Praticar a eutanásia pode, e deve ser considerado um gesto altruísta e nunca um acto de egoísmo. Para quem ama e gosta do outro, vê-lo sofrer sem necessidade é pouco misericordioso. Assim sendo, quem ama pode ajudar a matar. O desespero, o abandono social e familiar dos idosos, o sofrimento atroz interno e intenso devem ser condições a ter em conta sempre que se falar deste tema. Ninguém, pessoa nenhuma, ou especialista, sabe o quanto estou a sofrer de dores ou o confronto mental interno que enfrento no combate às dores insuportáveis. Não considerar isto é chamar cobarde ao sofredor porque desiste de lutar contra o que o incomoda e desestabiliza.
Não adianta falar em paliativos, ou esforço de prolongamento do sofrimento se, quem está mal, não tem qualidade de vida, pois, objectivamente, o desconforto e a desorientação que dessa situação física advém.
Não querer a eutanásia é ser egoísta.
Egoísta é não querer a eutanásia.
Texto: Fernando de Sucena
Imagem: Google

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