Não pretendo opinar sobre uma
coisa que considero pessoal. Cada pessoa tem o direito, desde que em plena
consciência e sensibilidade orgânica, de fazer o que bem entender com a sua
vida, com a sua própria vida.
Todavia, algumas questões
pertinentes estão interligadas com a eutanásia. Sou, não dador e estou a tratar
do Testamento Vital, porque julgo ser uma opção minha escolher o quero fazer
com o meu corpo, alma e mente, pois, depois do empurrão dado pelos pais que
levaram a que por acaso nascesse, passei a ser dono, não do destino, mas do,
que fazer comigo. Quer seja bom ou mau o que fizer será sempre uma opção minha,
tal como as subsequentes consequências.
De qualquer forma, julgo que o
referendo não se justifica porque é um tema que deve ser enquadrado jurídica e
criminalmente, mas não ser validado pela opinião pública. Veja-se o disparate
que foi o Referendo ao Aborto. O aborto, sem certas condições devia ser crime.
Ah pois! A mulher decide porque é dona do seu corpo e do interior do mesmo, mas
uma pessoa que se sente desconfortável consigo mesma não pode decidir sobre
ele. Porquê?
Não digo que saia mais barato e
socialmente seja mais aceitável, encomendar a eliminação de quem esta em estado
terminal a uns pretos marados ali da Cova da Moura ou uns branquelas drogados
do Bairro do Cerco, no Porto, em que até se podem trocar as zonas de actuação,
para um serviço mais eficaz. Não deixa de ser um assassinato mas sem
interferência do estado. A família, neste caso, até pode receber o seguro de
morte natural ou receber uma indemnização da APAV em caso de morte violenta.
Também, não podemos deixar de
inferir que, para muita gente gosma e oportunista que pulula por aí, aproveitar
a sobrevida dos familiares em estado terminal prolongado, permite aceder mais
depressa à fortuna e à herança. E esta heim!
Por umas centenas de euros
podemos fazer turismo em família, discretamente, e ir até à Suíça, à Dignitas e
termos a assistência profissional para despachar o raio do empecilho, que está
a gastar as poupanças de uma vida, sem que os herdeiros recebam todo o chorudo
pé-de-meia com que contavam, caso não apliquem a eutanásia…
De qualquer forma, a questão deve
ser sempre favorável à ideia de que quem decide é o próprio vivo. Mais ninguém.
No meu caso, que me tornei um agnóstico depois de ter passado pelo ateísmo, mas
sendo educado segundo a religião vigente, e bem, no Estado Novo, e sendo
considerado um cidadão que vive numa pseudo-democracia fascizante, tenho o
direito de escolha em relação a mim mesmo. Se eu quiser ser eutanasiado, porque
não me deixam ser? Será porque o estado deixa de receber uma data de dinheiro
de impostos, porque os falecidos não contribuem? Será porque toda a malta que
vive à conta do SNS, deixa de ter clientes lucrativos? Ou será porque esta
Democracia é uma ditadura ideológica?
Qualquer que seja a hipótese, o
cidadão em plena consciência tem o direito de escolher como quer deixar este
mundo dada vez cheio de doentes mentais (homossexuais, nomofóbicos, racistas,
subsídio dependentes) …
Praticar a eutanásia pode, e deve
ser considerado um gesto altruísta e nunca um acto de egoísmo. Para quem ama e
gosta do outro, vê-lo sofrer sem necessidade é pouco misericordioso. Assim
sendo, quem ama pode ajudar a matar. O desespero, o abandono social e familiar
dos idosos, o sofrimento atroz interno e intenso devem ser condições a ter em
conta sempre que se falar deste tema. Ninguém, pessoa nenhuma, ou especialista,
sabe o quanto estou a sofrer de dores ou o confronto mental interno que enfrento
no combate às dores insuportáveis. Não considerar isto é chamar cobarde ao
sofredor porque desiste de lutar contra o que o incomoda e desestabiliza.
Não adianta falar em paliativos,
ou esforço de prolongamento do sofrimento se, quem está mal, não tem qualidade
de vida, pois, objectivamente, o desconforto e a desorientação que dessa
situação física advém.
Não querer a eutanásia é ser
egoísta.
Egoísta é não querer a eutanásia.
Texto: Fernando de Sucena
Imagem: Google

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