O progresso de um país vê-se pela forma como as coisas por mais simples e aparentemente descontextualizadas se fazem.
A última actividade divertida e generalizada, para a malta se entreter, depois do andar a passar à frente dos outros nas prioridades das doses da vacina do Covid19, e furar o confinamento, é responder de livre vontade, obrigatoriamente penalizada, se falhada, aos censos.
Se aquela coisa já vem pré-preenchida com os dados da habitação, mas, se tiver uma piscina privada no quintal e o fisco não souber, o INE também não pesca nada. Trata-se de um trabalho quase ilegal de sinal contrário as regulamentações CNPD. Tal qual acontece com o IRS do Fisco com os rendimentos. Porque não utilizarem, os dados espalhados pelas redes sociais, pelas instituições da igreja, do estado e de alguns partidos políticos para pré-preencher aquela magnífica sequência de perguntas, em que cerca de ¼ delas são estúpidas.
Vejamos algumas delas. A certa altura, é solicitada aos cidadãos que, ao preencherem o formulário trabalham à borlix para o INE, que digam o que fazem no trabalho. A criatividade do inquirido pode ser espraiada, com a maior desfaçatez, sendo que, se, se tratar de trabalhadoras do sexo o naipe de respostas será, quicá, curioso. Na mesma linha de pensamento, há pergunta se na semana anterior (de Abril) estava a trabalhar ou não, se estava em teletrabalho, resta saber se as linhas eróticas, o sexo on-line ou sexo virtual são consideradas actividades profissionais.
Também, existe uma pergunta curiosa que se prende com a idade, a residência concelhia, a naturalidade e o grau de ensino. Destinadas aos mais novos que não podem preencher tal coisa, no que aos pais e, sobretudo, aos avós destes diz respeito, a coisa é duplamente parva. Se não souberem ler e não souberem escrever, não podem responder ao inquérito sem ajuda, e se não souberem ler não podem pedir ajuda pelo número indicado, e se não pedirem ajuda o INE fica todo atrofiado, e se fica atrofiado, isto é um trabalho meio feito, e se é um trabalho meio feito não deveria ser obrigatório. Por outro lado, os mais novos só sabem responder através de siglas e emojis, pelo que são incapazes de estar mais de 1 minuto a juntar as letras para perceberem as perguntas, mas todos eles sabem teoricamente ler e escrever. Assim sendo os censos são insanos, daí o título, deste desiderato.
Uma outra situação esquisita. Noutra das cinco partes do inquérito, é solicitada à pessoa que diga o tempo despendido de casa ao trabalho (só ida porque a vinda não conta porque o patronato estica-se para caraças com os horários) e o número de transportes utilizados, mas exclui o andar. Porquê? Para evitar perguntas sobre a obesidade, a fuga ao confinamento ou outra qualquer sinistra dúvida do autor desta coisa? Quiçá, eu vislumbre algo se perder um pouco de tempo a pensar como se fosse uma das cunhas do António Costa posto num lugar destes…
Outra série de disparates, prende-se com o facto de a pessoa inquirida, pertencente ao aglomerado familiar, nalguns casos, ter dificuldade em subir escadas, se tem dificuldade e mesmo com lunetas não vê um peido, etc. E porque não perguntam coisas mais populares como se tem dificuldade em conter a diarreia com os debates políticos na televisão, se faz muito self-sex para melhorar a visão ou quantas vezes diz mal do país e asneira por dia. Isso sim, seria muita lindo!
Mas, malta, ainda há mais perguntas atrofiantes. Logo no início, uma delas, pode levar ao crescimento da violência doméstica. É questionado o estado civil e, no caso e responder casado fica bloqueado, se não responder à opção seguinte que tem a ver com a união de facto na habitação. Ou seja, se for a morada da/o amante, a da esposa/o legitimo não conta para o agregado que o INE quer saber. Isto é de loucos.
A terminar, a minha aventura por esta bagunça estatística, fui confrontado com outra alarvidade. A propósito das deslocações e sobre o período de trabalho, á pergunta se alguma vez residiu mais de um ano no estrangeiro, tem de se mentir. Sim, mentir. É que estive mais de um ano seguido fora do país, em cinco membros do espaço Schengen, mas o sistema só aceita um e uma data de chegada. Está bem que foi entre 2006 e 2007, mas uma vez mais o INE fica enganado. Neste sentido temos de utilizar o provérbio antigo que refere, sensivelmente isto: Quando mais se quer saber menos se lhe diz.
Portanto, esta coisa, nestes moldes, de pouco serve. Deviam perguntar coisas mais úteis como qual o clube preferido, se gosta mais mulheres gordas ou magras, se gosta de homens musculados ou atléticos, se bebe muito ou pouco, se dá facadinhas no matrimónio, se detesta ou gosta de políticos corruptos, outras questões fracturantes. Assim ajudavam a Fundação Francisco Manuel dos Santos e o Portal PorData, a completar os censos à população como deve ser, num país a sério.
Enfim, foi divertido, brincar às estatísticas. A sério! E ainda querem multar quem tiver juízo e os mandar bugiar mais os inquéritos. Chega!
Para se rirem, a bandeiras despregadas, com as perguntas, acedam ao link, onde através das instruções de preenchimento podem ver, ao vivo e a cores a coisa…
https://www.youtube.com/watch?v=ccEoEwVtjj4
Texto: Fernando de Sucena
Imagem: Google

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