Saboreava o meu café, sem açucar, descafeinado
Numa esplanada solarenga, sentado resignado
Passeando a memória casualmente pelo passado
Quando por acaso, fitei o espaço descontinuado
Da esquerda para a direita, o sol por detrás de mim
Torço o meu pescoço com tamanho frenesim
Que fiquei meio zonzo pela brusca oscilação
Para me deleitar com uma tal luxuriante visão.
Que mulher provocadora de sentimentos e inveja
Suave, apetitosa, leve e fresca como fresca cerveja
Olhando altiva, fixando o longo infinito,
Com um passo, decidido, elegante pequenito
Gingando, ao andar como se fosse um manequim
Demonstrando, mesmo assim, um nervoso sem fim
Provocando em todos os outros um olhar guloso
Recordava-me da velha canção do Rui Veloso
'A Rapariguinha do Shopping', um grande sucesso
Numa época passada, louca, ímpar, sem regresso
Que mulher provocadora de sentimentos e inveja
Suave, apetitosa, leve e fresca como fresca cerveja
Bem maquilhada com as cores da moda
As tonalidades que aos mais velhos incomoda
Vestida com griffes de marca de bom corte
Realçando ainda mais, o bonito e altivo porte
P'lo canto do olho, mirou-me de esguelha
Provocando-me um sorriso de orelha a orelha
Atiçando ainda mais a minha vontade exaltada
Transformando-a numa paixão atormentada
Que mulher provocadora de sentimentos e inveja
Suave, apetitosa, leve e fresca como fresca cerveja
Transbordando uma imensa felicidade
Num impulso característico de feminilidade
Após o excitante acto, os óculos de sol colocou
E o bamboleante passo ritmado, gingão acelerou
Lembro-me de 'Descalça Vai Para a Fonte' de Camões
E seguindo o que se convencionou serem atracções
Num repente levantei-me para a seguir à pressa
O resto, às coisas, o mundo, já não me interessa.
Que mulher provocadora de sentimentos e inveja
Suave, apetitosa, leve e fresca como fresca cerveja
A ânsia da luxúria, bloqueou o meu pensamento
O meu raciocínio vivo e dinâmico, ficou lento.
Alheio a tudo, seguia as curvas como que enfeitiçado
Até um apartamento, decorado com gosto, afastado
E não deixou de ser com alguma surpresa pois
O que me aconteceu alguns momentos depois
Afinal, aquela ela era um ele, que descontento
Mas aprendi que o entusiasmo tolhe o discernimento
Acho, agora, aquela coisa aberrante não provocadora de inveja
Nem a comparo, sequer, a algo desejável como a uma fresca cerveja
Fernando Skinrey - 2021/03

Sem comentários:
Enviar um comentário