quinta-feira, 29 de abril de 2021

MULHER PROVOCADORA

 

 


Saboreava o meu café, sem açucar, descafeinado

Numa esplanada solarenga, sentado resignado

Passeando a memória casualmente pelo passado

Quando por acaso, fitei o espaço descontinuado

 

Da esquerda para a direita, o sol por detrás de mim

Torço o meu pescoço com tamanho frenesim

Que fiquei meio zonzo pela brusca oscilação

Para me deleitar com uma tal luxuriante visão.

 

Que mulher provocadora de sentimentos e inveja

Suave, apetitosa, leve e fresca como fresca cerveja

 

Olhando altiva, fixando o longo infinito,

Com um passo, decidido, elegante pequenito

Gingando, ao andar como se fosse um manequim

Demonstrando, mesmo assim, um nervoso sem fim

 

Provocando em todos os outros um olhar guloso

Recordava-me da velha canção do Rui Veloso

'A Rapariguinha do Shopping', um grande sucesso

Numa época passada, louca, ímpar, sem regresso

 

Que mulher provocadora de sentimentos e inveja

Suave, apetitosa, leve e fresca como fresca cerveja

 

Bem maquilhada com as cores da moda

As tonalidades que aos mais velhos incomoda

Vestida com griffes de marca de bom corte

Realçando ainda mais, o bonito e altivo porte

 

P'lo canto do olho, mirou-me  de esguelha

Provocando-me um sorriso de orelha a orelha

Atiçando ainda mais a minha vontade exaltada

Transformando-a numa paixão atormentada

 

Que mulher provocadora de sentimentos e inveja

Suave, apetitosa, leve e fresca como fresca cerveja

 

Transbordando uma imensa felicidade

Num impulso característico de feminilidade

Após o excitante acto, os óculos de sol colocou

E o bamboleante passo ritmado, gingão acelerou

 

Lembro-me de 'Descalça Vai Para a Fonte' de Camões

E seguindo o que se convencionou serem atracções

Num repente levantei-me para a seguir à pressa

O resto, às coisas, o mundo, já não me interessa.

 

Que mulher provocadora de sentimentos e inveja

Suave, apetitosa, leve e fresca como fresca cerveja

 

A ânsia da luxúria, bloqueou o meu pensamento

O meu raciocínio vivo e dinâmico, ficou lento.

Alheio a tudo, seguia as curvas como que enfeitiçado

Até um apartamento, decorado com gosto, afastado

 

E não deixou de ser com alguma surpresa pois

O que me aconteceu alguns momentos depois

Afinal, aquela ela era um ele, que descontento

Mas aprendi que o entusiasmo tolhe o discernimento

 

Acho, agora, aquela coisa aberrante não provocadora de inveja

Nem a comparo, sequer, a algo desejável como a uma fresca cerveja

 

Fernando Skinrey - 2021/03

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