terça-feira, 27 de maio de 2025

NÃO HÁ ANJOS

 

Fazer o bem ou o mal é indiferente

Ao que acontece depois da morte.

Ninguém deve ser temente,

Pois nascer e ficar vivo já é sorte

 

Quando acontece falecer um bebé

Todos, mesmo os descrentes,

Creem que algures ficará ao pé

De todos os seus ascendentes.

 

Não existe demónio nem Deus.

Tampouco anjos, ou almas,

Ou ente queridos que foram seus,

Nada fica ou resta das vivalmas,

 

Não há anjos nem penitências,

Para atenuar o sofrimento, a dor.

A fé existe pelas más influências,

Pela negação e pelo desamor.

 

O conceito de tempo foi criado

Para valorizamos a vida e o prazer,

Afim do sofrer não ficar acumulado

Dividindo-se entre nascer e morrer.

 

Finando, tudo termina, acaba, se esvai

Na poeira do tempo e do futuro.

O destino não se atrasa nem se distrai.

É assim que passa de modo duro.

 

Se houvesse anjos e outra vida,

Terminando esta seria possível

Acreditar de forma desprovida

No além do infinito exequível.

 

Anjo conceito abstrato, desconexo,

Pouco suscetível de entendimento,

Pensamento etéreo e amplexo

Apenas um falso sentimento.

 

Sonhar com anjos, é puro delírio

Decorrente do desejo de salvação

De quem escudado na cor Porfírio,

A eles e a santos exige devoção.

 

A fé é um mistério insondável

Criadora de demónios e crenças,

Idênticos no vazio razoável

Da razão insana e sua renascença.

 


Fenando de Sucena/Páscoa,2024

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