Sempre tive a mania dos negócios e das empresas, e de ser patrão e empresário.
Isso é um trabalho complicado e cansativo que exige algum discernimento.
Não tenho permis de conduire (carta), mas conduzi ilegalmente, para experimentar, e não gostei.
No entanto, comprei carros. Gostei do Morris Marina e comprei. Houve um outro que quase foi meu. Tive-o por uns dias pois, entre a venda e compra foi-me feita uma oferta interessante e lá se foi o Mehari colorido: portas verdes, capota preta, chassis branco e capô da frente laranja. Um carro em plástico que serviu para passear umas miúdas na Costa.
O Marina foi comprado na altura, por duzentos contos, só que comprei dois e não um. O Coupé de duas portas, a gasolina; e um de quatro portas, a gasóleo que serviu de muleto, como se diz na gíria, para retirar peças para o outro.
O carro tinha alterações ao nível da suspensão, e quanto mais carregado estava, mais estabilidade tinha. Gastava bastante, mas a gasolina era mais barata que no século XXI, mesmo tendo em conta a inflacção e a correção monetária.
Com este carrito dava umas voltas com o Olindo Dias, sempre a conduzir, até porque como não consumia álcool, era sempre fiável. Belos tempos, esses, irrepetíveis e, por isso mesmo, sempre deliciosos de recordar.
O mais inenarrável ocorrido com esta viatura, aconteceu bem à beira da casa onde morava, com os meus pais, que financiaram a aquisição. Estava a dar pequeno giro, mais ou menos uns 400 metros, com o carrito para a bateria recarregar. Esta acção era comum em carros velhos. Ia na subida, onde outrora ficava o Monumento aos Bombeiros, na Mina, quando deixei o Morris Marina ir abaixo. Não reparei que atrás vinha um carro patrulha da PSP atrás.
Solicitamente, um dos agentes saiu e apercebendo-se da situação chamou mais dois transeuntes e, em conjunto, empurraram o chaço. Quando pegou, fiz um like à FaceBook e cada um seguiu o seu caminho. O extraordinário é que, além de eu não ter carta, o carro não estava ainda, porque era no Verão, com toda a documentação actualizada.
Hesitei em referir este facto. Mas, julgo ser minha obrigação, já que estou a revelar as pequenas e desatinadas estórias, enquadrar e revelar a verdade, com o maior número de factos possível sem revelar a totalidade dos nomes, locais e datas exactos.
O carro avariava tantas vezes, que resolvi acabar com tanto sofrimento e eutanasiei-o. Morreu em frente à porta onde eu morava na Venteira, aquando de um dos meus casamentos. A mulher, de então, não quis o carro velho e estragado e eu desisti dele. Foi pena porque o podia ter recuperado e, agora seria um quase vintage bonito, luzidio e atraente. Enquanto o tive, as avarias eram úteis para praticar mecânica e arranjar desculpas para arranjar boleia de mulheres. Ah, pois!
Quanto ao Citroen Mehari, a situação mais cómica foi, igualmente, ocorrida com forças policiais. Numa das nossas idas para a Fonte da Telha, para nos encontrarmos com umas mastronças, foram furtadas as duas portas do carro e estragado o capô dianteiro numa tentativa vã de igual deliquência. O capô estava travado, por dentro, com uns suportes em voga nos anos 70, que consistiam nuns ferrolhos de borracha, que encaixavam nuns grampos de aço. Simples. Como estavam bem longe e de acesso difícil, só com alguma destreza a coisa se resolvia. Não foi isso que aconteceu e, vai daí, quem tentou, sem resultados, partiu para o vandalismo. No regresso a casa, na capital, na zona do Jamor, fomos interceptados por uma patrulha da Brigada de Trânsito devido ao facto de circularmos sem portas. O militar foi compreensivo e notificou-nos para que no prazo de 48 horas, o carro fosse apresentado completo ali para a zona do Rego, sob pena de ser autuado pela infracção detectada. É assim que as coisas são explicadas pela bófia.
Na data referida, o meu amigo apresentou-se no local, com a máquina já completa. Todavia, foi multado na mesma pois as peças substituídas não estavam na cor indicada no livrete. Saiu mais cara esta notificação, do que a multa da irregularidade. Com a venda do carro, as alterações no livrete passaram para a responsabilidade do comprador. Desconheço se ele voltou a uniformizar o carro, mas que ele estava muito três jolie, era verdade.
Percebi que o negócio de compra, troca e venda de automóveis usados era um negócio de vígaros e que exigia um investimento acima do que era expectável, eu dispor. Por isso, risquei o comércio automóvel das minhas prioridades para quase todo o sempre. Ponto.
Continuo, no entanto, a gostar de carros em todas as vertentes: desportivas, sociais, económicas e de evolução técnica. Mas, apenas como admirador passivo, tal como acontece com as touradas, o futebol e os bordéis. Cousas.
Texto: Mário Fernando Teixeira
Imagem: Google

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