Aqui há uns dias, resolvi recordar alguns dos pontos quentes das tardes lisboetas, na minha juventude. Comecei pelos Restauradores, pelas Portas de St° Antão e passei pela porta do Bar 25, onde se gastavam montes de moedas para ver umas gaja nuas a exibirem as partes pudendas numa plataforma rotativa e para onde se espreitava por um buraco, parecido com aqueles das portas das escadas, ou abria, uma janelita, tipo portada, onde podíamos acompanhar toda a beleza das curvas e contra-curvas, externas e internas do corpo feminino.
Aquilo, até nem era muito sexy, cheirava mal e tinha muitas zonas peganhentas. Enfim, uma badalhoqueira que, a nós, juventude dos anos 80, nos excitava bué. Mamas, coxas, ancas, cús, vaginas e caraças com esgares, faziam algumas (poucas) mulheres e os homens desenvolverem distensões do canal cárpico, ou túnel do carpo, ao fazerem túneis abafantes com as manápulas.
Era costume irmos uma série de 4 ou 5 amigos e revezarmo-nos na visualização de tamanho show. Tempos idos e dos quais restam cada vez menos recordações, porque cada vez mais, somos menos, os vivos, a lembrarmo-nos dessas cenas.
Depois, atravessei o Rossio, e deparei-me com a Rua dos Sapateiros, onde o Animatógrapho continua com anúncios a peep-shows. Era outra alternativa para os desempenhos da putaria. Apanhei uma barrigada a ver filmes pornos, algumas sessões de espectáculos eróticos e, no início dos anos 90, no outro lado da rua era vulgar irmos beber o famoso Pontapé na Cona, que curiosamente, a minha querida mulher adorava beber. Por vezes, era mamar álcool de um lado, atravessar o passeio com as moedas dos trocos da bebidas e ir para o Animatógrapho, ver filmes, ou espectáculos eróticos de cabaret.
Nada disto foi tão traumatizante minha gente, como a primeira queca. Foi algo de humilhante e, também, a ida à putas (assim mesmo) para a estreia do moço. Nessa época era lá que a iniciação sexual dos putos começava. Não digo que seria a regra, mas desta vez, com a agravante de ter sido enganado pelos meus amigos. Agora reconheço-os, como tal. Na altura não.
Os meus amigos, todos eles, mais velhos, um bom par de anos, e mais sabidões, em 1975, no início do ano lectivo por alturas de Outubro, convidaram-me para ir ver uma gaja nua. Num dos furos (que nesta altura era só saneamentos, manifes e porrada), achei que seria numa revista, e lá fui. Foi num edifício muito alto na Reboleira, que ainda existe e, onde sempre funcionou a repartição de finanças. Estava no Liceu Nacional da Amadora. Saímos do elevador e o mais expedito e pelos vistos o maior frequentador da coisa, bateu na porta e abriu uma rapariga aí com uns vinte e poucos anos. Sentámo-nos numas cadeiras, numa sala com uma televisão roufenha e umas revista pornos, no meio de uma risada baixinha.
Momentos depois, a tal senhora de roupão veio à porta do quarto e disse para entrar depois de perguntar quem seria o primeiro. Todos se calaram e apontaram para mim. Assim que entrei mandou fechar a porta e atirar a chave para cima da cama, num quarto escuro de penumbra, onde se vislumbravam alguns contornos.
E ali fiquei encurralado com uma matulona de trinta e tais com um par de mamas brutamente avantajadas e descaídas, um negro matagal no meio das pernas, uma voz rouca talvez dos cigarros que fumava desalmadamente mas com uma cara bonita então já totalmente despida. Estava ali a ver mulher nua. Era verdade. Os outros putos não me engaram, só omitiram um detalhe. E que grande detalhe.
Mandou-me aproximar dela e eu na minha inocência dos meus 14 ou 15 aninhos e virgem de corpo e alma, aproximei-me a medo. Cheirava bem.
Eu, era um magricelas, meio imbecil e acanhado, ameaçado por uma mulherona que comia habitualmente putos ao pequeno-almoço, velharias à tarde e cavalões à noite.
Aquela malta juvenil e imberbe era, tal qual esta de agora, só pele, osso e peneiras. Elas, as putas, eram umas mulheres com mais quilómetros de pénis recebido entre pernas, do que a distância de terra à lua, mas com uma ímpar habilidade para desvirginar os morcões juvenis.
Quanto mais magro se é, maior parece o badalo. E fiquei convencido, à semelhança, dos outros, que nenhum de nós era diferente ou extraordinariamente dotado. Coisas de homem que, desde pequeno marcam indelevelmente a personalidade psicossexual do macho. E isso, aprendi à primeira, porque elas fingem muito mas, não valorizam o que não merece. Ah, pois!
Com o crescimento do meu à vontade, a abertura das persianas, e uma luminosidade mais esclarecedora, vi em toda a plenitude o corpo de uma mulher, nua e crua. Primeiro de costas e em posição fetal, com toda a volumetria exposta, ao que se seguiu o distender a carcaça, meia balofa.
Sentou-se no lado da cama, bateu com a mão no colchão para que me aproximasse e começou a fazer festinha e miminhos e a dizer para a tocar e essas cenas porcas excitantes. Não irei entrar em detalhes, obviamente, não só por ser desnecessário mas, também por vergonha, pudor. Só sei que de repente dei por mim a nadar em cima de uma mulher feita e a achar que já era um homem. Esqueci-me do receio, dos medos e da figura inicial de totó que fiz ao ir com os meus companheiros àquele antro de perdição. Só que perdição da boa.
Depois do acto, muito simples, a senhora levantou-se, escarrapachou as pernas e passou-se a pano molhado com sabão, num pequeno alguidar, vestiu o roupão e chamou o seguinte. Sempre a aviar franguitos... Não fui eu que paguei porque o boss é que pagou a despesa com uma contribuição grupal. Nada de cuidados de higiene, nada de protecção, nada de beijo na boca. Para esta rapaziada, os sebosos juvenis do século passado, o grupo onde orgulhosamente passei a integrar-me, o beijo na boca, mesmo na vizinha do prédio do lado, na escada, já era por si uma aventura. Portanto, o que fiz foi muito superior ao que era habitual.
Aquilo tudo, durante cerca de meia hora, se bem me recordo, custou 80$00, o que na época era puxado. A minha mesada era apenas de 20 escudos. Agora, a preço médio, o custo duma pinada, é de € 20, aproximadamente, pela meia-hora, e poucos conseguem gastar esse tempo.
Era o custo da época. Um maço de tabaco, por exemplo, custava em média 370 escudos (1,85 euros), hoje o mesmo maço, custa, em média, 4,80 euros (960 escudos) ou mais.
O aluguer de uma casa nova custava cerca de dois contos, qualquer coisa como 10 euros.
Portanto, o pinanço, sempre foi um luxo, um vício e uma estranha forma de vida.
Fiquei vacinado contra a gayada e passei a ver só mulheres pela frente. Nunca mais vi o exo feminino da mesma forma. Todas muito iguais, como fonte prazenteira, fonte de erros e de conflitos. Mas uma coisa é certa. Gosto muito de mulheres, do acto em si, de pornografia e da vida que tenho e da que tive. A primeira vez pode definir toda uma vida.
E esta definiu.
Texto: Mário Teixeira
Imagem: Luís Aguiar - Arquivo/ProdutoresReunidos

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