terça-feira, 19 de abril de 2022

QUERES SER U'MAGALINHA DO PUTIN?

 

Queres ser profissional de pedofilia sem castigo? Vai para o exército russo.

Queres equipar a tua casota à borlix? Vai pilhar com o exército da Rússia.

Gostas de vestir camuflado e tentar fugir da morte certa? Torna-se mercenário baratucho nos invencíveis batalhões russos.

Queres violar mulheres sem teres de dizer à esposa, mas que ela saiba? Vai ser um magala da Federação Russa.

Queres deixar o airsoft e metralhares à bruta? Vai para magala do Putin.

Queres ganhar dinheiro como pedreiro ou servente? Vai para o exército russo missiliar cidades e ajudar na reconstrução.

Queres divertir-te com o sofrimento os outros? Incorpora-te nos batalhões russos.

Queres fazer de Bucha e Estica? Então fica só Estica que os russos destruiram Bucha.

Queres livrar-te de militares graduados que não gostas? Aguarda pela morte de um qualquer general russo na Ucrânia.

Queres morrer sem ser com Covid-19? Alista-te nas excelentes tropas de Moscovo.

Queres fazer parte de uma vasta equipa de mentirosos profissionais compulsivos? Vem para a tropa russa.

Queres torturar e matar civis sem seres castigado? Vem para alinhar com os maiores animais do exército russo.

 

Entretanto, na Sibéria...

Queres manipular imagens, ideias e teorias, numa que achas ser inteligente? Emigra para Rússia e vai trabalhar para o Ministério da Propaganda.

Queres nunca ser contrariado, nem acusado, mesmo não tendo razão? Vai para a Rússia porque a liberdade de expressão ou contrariedade dá prisa.

Queres ser um comunistóide disfarçado de fasciszeco nacionalista? Não é preciso ires para a tropa fandanga russa, basta seres parvo.


 

E, em Portugal...

Continuo a gostar de bolas de Berlim Este com muito Kremlin, a ver sites de Putinas russas e a cagar-me para aqueles feios, parecidos com o Shrek.

Devemos continuar a ir aos bordéis de russas, em Portugal, descarregar a ansiedade, que é para isso que as mães, filhas e irmãs dos magalinhas soviéticos servem. Se não o fizermos, por outro lado, é ajudar a boicotar a economia tricolor. Aproveitem a liberdade abrilista e escolham...

Slavia Salazar.

 

Texto: Fernando Skinrey - 4/2022

Imagem: Google

quarta-feira, 6 de abril de 2022

O AMOR É COMPLEXO

 O amor é complexo

sem nexo, um anexo

um simples reflexo

mesmo com sexo

que me deixa perplexo

 

Se for sentimento

surge num momento

cá dentro, um lamento

como um tormento,

ou medicamento se, alento.

 

Se não for, poderá ser dor,

ter o sabor do horror, rancor

um calor arrebatador,

um pudor opressor, sem cor,

estertor, um mau odor.

 

Por isso...

O amor é complexo

sem nexo, um anexo

um simples reflexo

mesmo com sexo

que me deixa perplexo

 

 

Texto: Fernando de Sucena - Março/2022

Imagem: Google

 


 

AS MINHAS PRIMEIRAS VEZES - NO SEXO

 Aqui há uns dias, resolvi recordar alguns dos pontos quentes das tardes lisboetas, na minha juventude. Comecei pelos Restauradores, pelas Portas de St° Antão e passei pela porta do Bar 25, onde se gastavam montes de moedas para ver umas gaja nuas a exibirem as partes pudendas numa plataforma rotativa e para onde se espreitava por um buraco, parecido com aqueles das portas das escadas, ou abria, uma janelita, tipo portada, onde podíamos acompanhar toda a beleza das curvas e contra-curvas, externas e internas do corpo feminino.

Aquilo, até nem era muito sexy, cheirava mal e tinha muitas zonas peganhentas. Enfim, uma badalhoqueira que, a nós, juventude dos anos 80, nos excitava bué. Mamas, coxas, ancas, cús, vaginas e caraças com esgares, faziam algumas (poucas) mulheres e os homens desenvolverem distensões do canal cárpico, ou túnel do carpo, ao fazerem túneis abafantes com as manápulas.

Era costume irmos uma série de 4 ou 5 amigos e revezarmo-nos na visualização de tamanho show. Tempos idos e dos quais restam cada vez menos recordações, porque cada vez mais, somos menos, os vivos, a lembrarmo-nos dessas cenas.

Depois, atravessei o Rossio, e deparei-me com a Rua dos Sapateiros, onde o Animatógrapho continua com anúncios a peep-shows. Era outra alternativa para os desempenhos da putaria. Apanhei uma barrigada a ver filmes pornos, algumas sessões de espectáculos eróticos e, no início dos anos 90, no outro lado da rua era vulgar irmos beber o famoso Pontapé na Cona, que curiosamente, a minha querida mulher adorava beber. Por vezes, era mamar álcool de um lado, atravessar o passeio com as moedas dos trocos da bebidas e ir para o Animatógrapho, ver filmes, ou espectáculos eróticos de cabaret.

Nada disto foi tão traumatizante minha gente, como a primeira queca. Foi algo de humilhante e, também, a ida à putas (assim mesmo) para a estreia do moço. Nessa época era lá que a iniciação sexual dos putos começava. Não digo que seria a regra, mas desta vez, com a agravante de ter sido enganado pelos meus amigos. Agora reconheço-os, como tal. Na altura não.

Os meus amigos, todos eles, mais velhos, um bom par de anos, e mais sabidões, em 1975, no início do ano lectivo por alturas de Outubro, convidaram-me para ir ver uma gaja nua. Num dos furos (que nesta altura era só saneamentos, manifes e porrada), achei que seria numa revista, e lá fui. Foi num edifício muito alto na Reboleira, que ainda existe e, onde sempre funcionou a repartição de finanças. Estava no Liceu Nacional da Amadora. Saímos do elevador e o mais expedito e pelos vistos o maior frequentador da coisa, bateu na porta e abriu uma rapariga aí com uns vinte e poucos anos. Sentámo-nos numas cadeiras, numa sala com uma televisão roufenha e umas revista pornos, no meio de uma risada baixinha.

Momentos depois, a tal senhora de roupão veio à porta do quarto e disse para entrar depois de perguntar quem seria o primeiro. Todos se calaram e apontaram para mim. Assim que entrei mandou fechar a porta e atirar a chave para cima da cama, num quarto escuro de penumbra, onde se vislumbravam alguns contornos.

E ali fiquei encurralado com uma matulona de trinta e tais com um par de mamas brutamente avantajadas e descaídas, um negro matagal no meio das pernas, uma voz rouca talvez dos cigarros que fumava desalmadamente mas com uma cara bonita então já totalmente despida. Estava ali a ver mulher nua. Era verdade. Os outros putos não me engaram, só omitiram um detalhe. E que grande detalhe.

Mandou-me aproximar dela e eu na minha inocência dos meus 14 ou 15 aninhos e virgem de corpo e alma, aproximei-me a medo. Cheirava bem. 

Eu, era um magricelas, meio imbecil e acanhado, ameaçado por uma mulherona que comia habitualmente putos ao pequeno-almoço, velharias à tarde e cavalões à noite.

 Aquela malta juvenil e imberbe era, tal qual esta de agora, só pele, osso e peneiras. Elas, as putas, eram umas mulheres com mais quilómetros de pénis recebido entre pernas, do que a distância de terra à lua, mas com uma ímpar habilidade para desvirginar os morcões juvenis.

Quanto mais magro se é, maior parece o badalo. E fiquei convencido, à semelhança, dos outros, que nenhum de nós era diferente ou extraordinariamente dotado. Coisas de homem que, desde pequeno marcam indelevelmente a personalidade psicossexual do macho. E isso, aprendi à primeira, porque elas fingem muito mas, não valorizam o que não merece. Ah, pois!

Com o crescimento do meu à vontade, a abertura das persianas, e uma luminosidade mais esclarecedora, vi em toda a plenitude o corpo de uma mulher, nua e crua. Primeiro de costas e em posição fetal, com toda a volumetria exposta, ao que se seguiu o distender a carcaça, meia balofa.

Sentou-se no lado da cama, bateu com a mão no colchão para que me aproximasse e começou a fazer festinha e miminhos e a dizer para a tocar e essas cenas porcas excitantes. Não irei entrar em detalhes, obviamente, não só por ser desnecessário mas, também por vergonha, pudor. Só sei que de repente dei por mim a nadar em cima de uma mulher feita e a achar que já era um homem. Esqueci-me do receio, dos medos e da figura inicial de totó que fiz ao ir com os meus companheiros àquele antro de perdição. Só que perdição da boa.

Depois do acto, muito simples, a senhora levantou-se, escarrapachou as pernas e passou-se a pano molhado com sabão, num pequeno alguidar, vestiu o roupão e chamou o seguinte. Sempre a aviar franguitos... Não fui eu que paguei porque o boss é que pagou a despesa com uma contribuição grupal. Nada de cuidados de higiene, nada de protecção, nada de beijo na boca. Para esta rapaziada, os sebosos juvenis do século passado, o grupo onde orgulhosamente passei a integrar-me, o beijo na boca, mesmo na vizinha do prédio do lado, na escada, já era por si uma aventura. Portanto, o que fiz foi muito superior ao que era habitual.

Aquilo tudo, durante cerca de meia hora, se bem me recordo, custou 80$00, o que na época era puxado. A minha mesada era apenas de 20 escudos. Agora, a preço médio, o custo duma pinada, é de € 20, aproximadamente, pela meia-hora, e poucos conseguem gastar esse tempo.

Era o custo da época. Um maço de tabaco, por exemplo, custava em média 370 escudos (1,85 euros), hoje o mesmo maço, custa, em média, 4,80 euros (960 escudos) ou mais.

O aluguer de uma casa nova custava cerca de dois contos, qualquer coisa como 10 euros.

Portanto, o pinanço, sempre foi um luxo, um vício e uma estranha forma de vida.

Fiquei vacinado contra a gayada e passei a ver só mulheres pela frente. Nunca mais vi o exo feminino da mesma forma. Todas muito iguais, como fonte prazenteira, fonte de erros e de conflitos. Mas uma coisa é certa. Gosto muito de mulheres, do acto em si, de pornografia e da vida que tenho e da que tive. A primeira vez pode definir toda uma vida.

E esta definiu.

 

 

 

Texto: Mário Teixeira

 Imagem:  Luís Aguiar - Arquivo/ProdutoresReunidos

AMANHECE...

 

Amanhece...

Mais uma vez, numa sequência

Repetitiva, regular, sem anuência

 

Amanhece...

Com sol a despontar, alegrando

Livremente o dia sem desmando

 

Amanhece...

A rotina, desde sempre, imemorial

Ao longo do tempo, sempre natural

 

Amanhece...

O dia por vezes melancólico e triste,

Alimentando a neurose que persiste

 

Amanhece...

E o despertar antecede o acordar

Segue-se outro dia para enfrentar

 

Amanhece...

Assisto impotente ao passar do tempo

Tentando aproveitar cada momento

 

Amanhece...

Porque, depois vai por certo anoitecer

Até não mais deste ciclo me aperceber

 

 


Texto: Fernando de Sucena - 04/2022

Imagem: Google

 

O NEGÓCIO DOS CARROS

 


Sempre tive a mania dos negócios e das empresas, e de ser patrão e empresário.

Isso é um trabalho complicado e cansativo que exige algum discernimento.

Não tenho permis de conduire (carta), mas conduzi ilegalmente, para experimentar, e não gostei.

No entanto, comprei carros. Gostei do Morris Marina e comprei. Houve um outro que quase foi meu. Tive-o por uns dias pois, entre a venda e compra foi-me feita uma oferta interessante e lá se foi o Mehari colorido: portas verdes, capota preta, chassis branco e capô da frente laranja. Um carro em plástico que serviu para passear umas miúdas na Costa.

O Marina foi comprado na altura, por duzentos contos, só que comprei dois e não um. O Coupé de duas portas, a gasolina; e um de quatro portas, a gasóleo que serviu de muleto, como se diz na gíria, para retirar peças para o outro.

O carro tinha alterações ao nível da suspensão, e quanto mais carregado estava, mais estabilidade tinha. Gastava bastante, mas a gasolina era mais barata que no século XXI, mesmo tendo em conta a inflacção e a correção monetária.

Com este carrito dava umas voltas com o Olindo Dias, sempre a conduzir, até porque como não consumia álcool, era sempre fiável. Belos tempos, esses, irrepetíveis e, por isso mesmo, sempre deliciosos de recordar.

O mais inenarrável ocorrido com esta viatura, aconteceu bem à beira da casa onde morava, com os meus pais, que financiaram a aquisição. Estava a dar pequeno giro, mais ou menos uns 400 metros, com o carrito para a bateria recarregar. Esta acção era comum em carros velhos. Ia na subida, onde outrora ficava o Monumento aos Bombeiros, na Mina, quando deixei o Morris Marina ir abaixo. Não reparei que atrás vinha um carro patrulha da PSP atrás.

Solicitamente, um dos agentes saiu e apercebendo-se da situação chamou mais dois transeuntes e, em conjunto, empurraram o chaço. Quando pegou, fiz um like à FaceBook e cada um seguiu o seu caminho. O extraordinário é que, além de eu não ter carta, o carro não estava ainda, porque era no Verão, com toda a documentação actualizada.

Hesitei em referir este facto. Mas, julgo ser minha obrigação, já que estou a revelar as pequenas e desatinadas estórias, enquadrar e revelar a verdade, com o maior número de factos possível sem revelar a totalidade dos nomes, locais e datas exactos.

O carro avariava tantas vezes, que resolvi acabar com tanto sofrimento e eutanasiei-o. Morreu em frente à porta onde eu morava na Venteira, aquando de um dos meus casamentos. A mulher, de então, não quis o carro velho e estragado e eu desisti dele. Foi pena porque o podia ter recuperado e, agora seria um quase vintage bonito, luzidio e atraente. Enquanto o tive, as avarias eram úteis para praticar mecânica e arranjar desculpas para arranjar boleia de mulheres. Ah, pois!

Quanto ao Citroen Mehari, a situação mais cómica foi, igualmente, ocorrida com forças policiais. Numa das nossas idas para a Fonte da Telha, para nos encontrarmos com umas mastronças, foram furtadas as duas portas do carro e estragado o capô dianteiro numa tentativa vã de igual deliquência. O capô estava travado, por dentro, com uns suportes em voga nos anos 70, que consistiam nuns ferrolhos de borracha, que encaixavam nuns grampos de aço. Simples. Como estavam bem longe e de acesso difícil, só com alguma destreza a coisa se resolvia. Não foi isso que aconteceu e, vai daí, quem tentou, sem resultados, partiu para o vandalismo. No regresso a casa, na capital, na zona do Jamor, fomos interceptados por uma patrulha da Brigada de Trânsito devido ao facto de circularmos sem portas. O militar foi compreensivo e notificou-nos para que no prazo de 48 horas, o carro fosse apresentado completo ali para a zona do Rego, sob pena de ser autuado pela infracção detectada. É assim que as coisas são explicadas pela bófia.

Na data referida, o meu amigo apresentou-se no local, com a máquina já completa. Todavia, foi multado na mesma pois as peças substituídas não estavam na cor indicada no livrete. Saiu mais cara esta notificação, do que a multa da irregularidade. Com a venda do carro, as alterações no livrete passaram para a responsabilidade do comprador. Desconheço se ele voltou a uniformizar o carro, mas que ele estava muito três jolie, era verdade.

Percebi que o negócio de compra, troca e venda de automóveis usados era um negócio de vígaros e que exigia um investimento acima do que era expectável, eu dispor. Por isso, risquei o comércio automóvel das minhas prioridades para quase todo o sempre. Ponto.

Continuo, no entanto, a gostar de carros em todas as vertentes: desportivas, sociais, económicas e de evolução técnica. Mas, apenas como admirador passivo, tal como acontece com as touradas, o futebol e os bordéis. Cousas.

 

Texto: Mário Fernando Teixeira

Imagem: Google

 

GOSTO DO PUTIN, OU NÃO PORQUE…

 

Gosto do Putin porque o gajo é de extrema-direita, mas não gosto porque é um psicopata arraçado de comuna.

Gosto do Putin porque o homem é agressivo, mas não gosto porque é um cobarde que só usa misseis.

Gosto do Putin porque é fiel aos princípios, mas não gosto porque é muito parvo.

Gosto do Putin porque o fascista é inteligente, mas não gosto do Putin porque é convencido falhado.

Gosto do Putin porque manda na Rússia, mas não gosto do Putin porque quer mandar em todos.

Gosto do Putin porque é velho, mas não gosto do Putin porque nunca mais morre.

Gosto do Putin porque é macho, mas não gosto do Putin porque é feio.

Gosto do Putin porque é homofóbico, mas não gosto do Putin porque mata putos.

Gosto do Putin porque ataca o Estado Islâmico, mas não gosto do Putin porque é uma besta.

Gosto do Putin porque fechou o Facebook, mas não gosto do Putin porque não dá liberdade de expressão.

Gosto do Putin porque motiva o exército, mas não gosto do Putin porque só manda soldados roubar e pilhar.

Gosto muito de Pudim, mas não gosto de Putin.

Ponderando: Não gosto mesmo nada Putin, filho da Putina.

 






Texto: Fernando Skinrey

Imagem: Portuguese Haus Mafia

TRAUMAS & SORTES

 

A vida é o que tem de ser e não aquilo que queremos. Os traumas podem ser ultrapassados ou afectantes para o futuro. Quer dizer, só podemos ultrapassar os problemas resolvendo-os como, também, ultrapassar os traumas e os medos lutando contra eles.

Vem esta introdução a propósito de situações traumatizantes que me sucederam, mas que ultrapassei. Ultrapassar não é esquecer e esse não esquecer é uma lição para o futuro. Um factor correctivo.

A sorte não existe no sentido de sorte, o inverso de azar. O que existe é o aproveitamento da oportunidade. Para o bem e para o mal.

Ao longo destas seis décadas de vida, sofri, por acasos, por parvoíce ou por vicissitudes inexplicáveis, uma série de acidentes e incidentes que poderiam ter sido fatais.

Não me recordo em concreto, das datas mas vislumbro as situações como se tivessem ocorrido recentemente. Devia ter uns 14/15 anos quando na sequência duma discussão com outros fedelhos, ciganos, da mesma idade, que descambou em porrada, originou que, na ânsia de fugir do confronto com os Lelos, desatei a correr por ali fora e por centímetros não fui trucidado por um comboio, numa passagem de nível, na Amadora, que reclamou muitas vidas. Ainda hoje sinto o vento da deslocação de ar nas minhas costas. Aliás, já falei desta péssima experiência, e da seguinte, noutra crónica.

Noutra altura, anos mais tarde, ainda os comboios da Linha de Sintra, tinham estações terminais na Amadora, Queluz, Cacém e Sintra, ao descer pelo lado errado da gare escapei por porco se outro confronto directo com o Tromba d'Aço. Um negrão encorpado, puxou-me para cima, quando eu queria ir para baixo, evitando que fosse arrastado pelo ar e trucidado. Apesar de embirrar com eles, apesar de me serem indiferentes, estou agora a escrever isto, graças ao preto.

Pela mesma altura, entre os 18 e os 26 anos, época de grandes mudanças sociais e rebeldia que eu fazia questão de aplicar para solidificar a minha personalidade, essência ou, o que quiserem chamar foi atribulada.

Por aí, tive um acidente de moto na Amadora, naquilo que se chamava o circuito da estação, pois como a prioridade era sempre de quem conduzia, a malta das motos andava a assapar. Uma das noites, em que estava com moto emprestada, na descida da ponte para virar à esquerda para o CC Babilónia, fui surpreendido, a uns 60 km/h, por um fulano de carro ligeiramente fora de mão e sem luzes a andar devagar. Não fui morto por acaso, já que apercebi-me ao acelerar de uns reflexos estranhos, o que me levou a travar, escaqueirando a motinha do amigo. Durante uns meses andei a amortizar a reparação da sete e meio. Fiquei com umas entorses e umas nódoas negras e pouco mais. Todavia, percebi que andar de moto não era, nem seria a coisa mais divertida de fazer.

Uns dias antes, noutra conduta louca, a caminho de Carnaxide, numa da curvas que ligam a Amadora a Carnaxide, certamente por causa do sol, fiquei a perceber que o asfalto é escuro e o céu azul, pelo que não é possível conduzir de rodas para o ar. Foi uma queda simples, mas mais um incidente.

Não quis perceber que aquilo seriam sinais da providência.

Pior, muito pior, aconteceu uns anos depois. Com efeito, durante um intervalo nos treinos do clube onde jogava, dois dos fulanos que por lá andavam convidaram-me para ir com eles levantar uns bilhetes para um programa de música da RTP, no Lumiar. Saímos de Alcântara e em frente ao estádio do glorioso, depois de reabastecer, e lançados num picanço entre os dois, o condutor do qual eu era pendura, atrasou-se ao arrancar e foi ultrapassado pelo primo, na noutra moto, que se encaixou a meio de um camião que ia a passar, e nós chocamos com ele.

A chamada faixa de lentos, na época, no Estádio da Luz, era um um traço de meia dúzia de metros, e em plena 2a Circular, não prevendo a entrada a baixa velocidade, a entrada a matar causava arrepios, mesmo aos mais intrépidos.

O resultado foi um morto, um ferido grave, um ferido ligeiro, e um em estado de choque (eu). Depois se todo radiografado, fui avaliado e com algumas escoriações, nódoas negras e dorido para caramba, fui para casa. Durante anos guardei as radiografias todas que eram, positivamente 1,80 metros de chapas, do interior de mim mesmo, pois como me queixava de dores em todo o lado, o pessoal da urgência do Hospital de Santa Maria radiografaram-me todo, pois as queixas incidiam na coluna e nas articulações.

No intervalo de ambos os acidentes, um outro marcou-me mesmo. Estava a estudar, no então chamado Liceu de Queluz, quando um dia ao fim da tarde, antes de ir ter com os meus amigos da copofonia, nos Quatro Caminhos, encontrei um outro que havia recebido de oferta de um primo, uma Casal Boss usada. Estava com curiosidade em saber como era uma motita e não uma motona. Depois de falarmos um bocado pedi-lhe, para me deixar experimentar uma volta, e ele acedeu.

Nem cheguei a andar 50 metros e esbardalhei-me. A coisa aconteceu na antiga rotunda para Carenque em Queluz, onde estava o chamado o Homem-Elefante, que orientava o trânsito naquele ponto. O senhor tinha um problema de pele horroroso. Ao fazer a curva, muito devagar, algo no manípulo do travão da mota falhou e fui em frente e enfaixei-me num fosso do latoeiro que havia, onde hoje está uma estação de águas.

Foi barulho e confusão a rodos, a moto ficou com as rodas quadradas, eu fiquei com um pulso inchado, dores na coluna, calças de ganga rasgadas, quiçá lançando a moda dos rasgões, e o meu amigo com sucata para vender. Como não havia documentos, nem licenças, nem nada bazámos os dois dali e nunca mais se falou de coisa nenhuma. Excelente funeral para a maquineta.

 Mas houve mais.

Mais tarde, estava a trabalhar na gráfica do Ministério das Finanças, não me recordo o ano, mas o Miguel Cadilhe era o ministro do pelouro, quando num das vaivéns que fazia, num triciclo com caixa motorizado, para transportar papel da impressão para o acabamento e deste para a expedição, calculei mal o ângulo de abordagem da curva em relação com o peso e vai daí catrapumba, na descida travei mal, fiz aquilo que, em gíria se chama uma mula, (o contrário do cavalinho) e lá foi uma saída do banco por cima do guiador e uma marca na perna que ainda, hoje, me dói.

Um outro acidente que ocorreu, felizmente sem grandes danos físicos, foi mero azar.

Numa excursão a Monte Real, com amigos e família, para tentar fazer a fotografia exótica, subi a uma árvore. Quando me estava a aninhar, no ramo, aí uns quatro metros, o mesmo cedeu e caí, tipo pássaro morto no chão. Só não me aleijei, porque, incrivelmente, caí direitinho, tipo múmia, numa fossa asséptica de folhas e ramos e encaixei direitinho no buraco. Exceptuando o pivete e algumas nódoas negras, nada mais aconteceu. Sorte.

Também com automóveis escapei de duas, o que me faz sentir confortável com esta força exterior inexplicável que, por vezes, nos protege.

A primeira situação, ocorreu, nos início dos anos 80, com um amigo que era comissário desportivo no autódromo do Estoril, e ensaiava umas passagens em Sintra para tentar ser piloto de ralis. O rapazito, João Pedro, colaborava comigo no Jornal de Queluz, como fotógrafo, e no qual eu era Chefe de Redacção, passava pela segunda vez no percurso que fazia parte do troço da Lagoa Azul, quando sem saber como, perdeu o controlo do Fiat e chocou contra uns penedos. Com o impacto, dei uma marrada no tabeliê, um encontrão na porta que se amachucou e enegreceu o meu ombro e cotovelo direitos. As únicas consequências, deste incidente, no futuro para mim, foram duas. A primeira, foi que percebi que com os problemas de coluna de que padeço, nunca poderia ser pendura. A segunda, é que além, de não conseguir ler em andamento, iria impedir de ler as notas, o chocalhar dentro carro provocava-me má disposição. E foi assim, na prática e com experiência, que desisti de participar em corridas de automóveis. Sinceramente aquilo não era para mim.

A outra situação ocorreu na margem sul, na zona da Marateca, quando regressava à Amadora, com o meu grande amigo Carlos Alberto.

Acompanhei-o ao Algarve onde se deslocara para resolver uns assuntos pessoais, em Armação de Pêra. No regresso, a meio da noite, e sem que nada o fizesse prever, despistou-se. Antes do acidente, lembro-me, claramente, de lhe ter chamado a atenção para o facto de a faixa contínua do separador central estar do meu lado direito, em vez de estar do lado dele. Não se apercebeu e quando viu que estava na faixa errada, assustou-se e, em vez de guinar para a direita fê-lo para a esquerda e despistou-se contra uma árvore, terminado aí, o tranquilo regresso a casa. Como era noite cerrada e não se via nada, só pela manhã aquando da chegada do reboque, entretanto chamado, vimos que a cerca de um metro ao lado estava um penhasco, com pedregulhos aguçados no fundo. Meio metro mais ao lado, e teria sido uma queda bem mais complicada pois, o embate faria com. que o chaço de estragasse a sério, e as sequelas corporais seriam bem mais agrestes. Em cúmulo, bastava ser cuspido do carro para que a pior cogitação fosse possível. Não foi.

Quer dizer, os traumas podem ser um factor sortudo pois, se sobrevivemos e continuamos a viver com eles, é porque reagimos positivamente aos mesmos e ultrapassámos as causas que o criou. A vida sem traumas não seria tão interessante. Mas, cuidado os outros não têm nada que ser envolvidos, nos nossos, porque, obviamente, os dos outros não são nada para nós.

Fiquei grato por continuar apto a ser um alvo acidentável. Fiquei estranho, porém, vivo!

 

Texto: Mário Fernando Teixeira

Imagem: Arquivo - SnapChat