É ASSIM A VIDA…
Cama, quarto, casa, piso, prédio, quarteirão, rua, bairro, freguesia, concelho, distrito, província, estado, país, continente e mundo. Ou, continente, país, estado, concelho, freguesia, bairro, rua, quarteirão, prédio, piso, casa, quarto e cama.
Parece uma brincadeira mas, isto é das análises mais sérias e verosímeis que se podem fazer. Em suma, o que esta sequência nos revela é que ao longo de uma vida medianamente vivida, temos um círculo de convívio e acção social e humana, ou seja, a dimensão do mundo aumenta e diminui de acordo com o crescimento e o envelhecimento.
A dimensão da percepção pessoal do espaço e do mundo que nos rodeia amenta desde o nascimento até à idade em que o cansaço, a desactivação da actividade profissional, desportiva e cultural e a decadência física encolhem a dimensão do espaço que nos rodeia.
Assim a primeira ideia do mundo, é o berço, ou cama. Com as primeiras semanas de vida cresce a curiosidade do que o rodeia no quarto que é onde passa grande parte do dia. Com o gatinhar conhece outras dimensões, formas, cores e experiências em casa e com os primeiros passitos e a estabilidade na postura vertical, toma conhecimento do piso e do prédio. Com o crescimento solidificado e o acesso aos infantários e pré-primários surge a visualização do mundo exterior do prédio, do quarteirão, da rua do bairro, da freguesia e do concelho, por ordem de grandeza e mobilidade. Na adolescência e pré-adultismo surge a dinâmica da perspectiva social e de confraternização das pessoas que interagem com cada um de nós, de forma mais ou menos assídua no distrito, na província e no estado. Com a idade adulta, e refiro os mais móveis que podem aumentar o conhecimento em função da expansão pelo país, pelo continente e pelo mundo.
Ao entrar no ocaso da fase adulta, o cansaço e a saturação da vida remete as pessoas para um regresso ao passado. Deixamos de fazer grandes viagens, pelo que o mundo, o continente e na maior parte dos casos o país, pois sendo contraditórios ao sedentarismo, a abdicação do viajar e do explorar o mundo reduz-se. Durante muito tempo a exploração e contacto com outros mantem-se pelo estado ou província (divisão administrativa do território). No limiar da terceira idade, o mundo restringe-se ao concelho e à freguesia. Com o avançar da idade, ficamos pelo bairro, depois pela rua, reduzindo cada vez mais a amplitude das saídas. Com o avançar para a decadência com mais ou menos senilidade, ficamos restringidos ao quarteirão, ao prédio, ao piso, em casa, mais concretamente no quarto, na cama. A vida acaba como começa, deitados numa cama, isolados do mundo, dos outros e de nós próprios, estando dependentes de terceiros. No princípio e no fim da vida. É assim a vida… Uma passagem pelo tempo, interminável… infinito…incomensurável.
Texto: Fernando de Sucena - 2021
Imagem: Google

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