terça-feira, 8 de junho de 2021

OS CONCERTOS DA MINHA VIDA

 

Desde sempre que as pessoas gostam de ouvir e, sobretudo, ver os seus artistas favoritos em palco, a desenvolver as suas aptidões criativas, num ambiente diferente do que o disco gravado regista. Pois bem, assisti a muitos espectáculos, vulgo shows, ao longo da minha vida. De umas centenas, pelas contas da memória, se não for atraiçoado pela mesma, deve andar em torno dos setecentos. Sim, setecentos! Nestes incluem-se concertos de artistas pop/rock, pimba, fado, tunas, clássicos e de câmara, festivais tipo Rock in Rio, etc. Todos eles com ou sem convite com ou sem bilhete, estando ou não sem reportagem. O que interessa é ouvir música ao vivo.

Começo por falar de um, raro e que só uns tantos, tiveram o privilégio de apreciar. Num pequeno espaço em Lisboa, do qual já nem me recordo o nome, mas que foi utilizado para o lançamento do Cd 60´s Slows da Discossete, em 1990. Intimista, privativo, sensitivo e com duas das vozes mais espectaculares do país, no auge da sonoridade: TOY e RICARDO LANDUM. Mais do que os temas intemporais interpretados, as vocalizações de ambos transformaram meras covers em algo mais. Muito mais. Não fosse a presença física e pareceria uma emissão de rádio com as vozes da época.  

Mas, nem só de apresentações as minhas memórias se encheram. KISS, no Pavilhão do Dramático de Cascais, já demolido, em 1983, e que foi o primeiro concerto de Heavy/Hard a que assisti e que para além de outras recordações implícitas, fiquei com um tímpano roto, porque a qualidade do PA, de então, era muito mazinha. Além do mais, foi nesta época, que o incomparável programa radiofónico do Júlio Isidro, Febre de Sábado de Manhã, servia de mola aos novos nomes e grupos do movimento New-age, que tinham como expoente máximo Duran Duran.

ROBERTA MIRANDA em 1999 no Coliseu de Lisboa, numa época em que um homem, sem demonstrar, estava apaixonado ao ouvir música romântica, mas cantada pelo sexo feminino e não essas baboseiras do ROBERTO CARLOS, que também, vi no Coliseu de Lisboa com a minha ex, pois então! Um som sertanejo misturado com letras bonitas eram um cocktail de bom gosto, servido por uma excelente voz. 

Em 1997, Abril, no Campo Pequeno, actuou LAURA PAUSINI, quando explodiu para o mundo com o álbum La Solitudine. Uma voz de excepção, límpida e que reforça a melodia natural da língua italiana. Não esgotou e foi pena porque foi, de facto, um concerto extraordinário. 

O presidente Jorge Sampaio, no longínquo ano de 1999, pediu e o Pavilhão Atlântico encheu-se, para a reunião única dos TROVANTE. O grupo estava desactivado há uns anos, mas João Gil e Luís Represas, acordaram e a vontade do presidente foi cumprida. E ainda bem! Foi muito, muito bom. Foi daquelas situações em que a oportunidade vale mais do que o resto. Estive lá, e isso, ninguém me tira, nem consegue apagar da memória este momento.

DURUTTI COLUMN. Um grupo com um som muito diferente do que é normal desta crónica. Diacho, também sou, muito eclético em termos de música, e em 1991, também em Abril, no Teatro São Luís, com um público conhecedor e muito admirador da banda de Vini Reilly. Para quem aprecia, um concerto desta onda é marcante. E este foi-o. 

Completamente diferente foi o que vi e delirei com o aparato cénico, em Dezembro de 2001, no Pavilhão Atlântico. Se como ópera, em suporte vinil ou CD já é admirável, em palco, ao vivo e com a figuração em movimento constante no palco, torna-se inolvidável. Falo da ópera AIDA. Não sou, particularmente apreciador de ópera, mas ao vivo é muito diferente do que se vê na televisão. Diferente e para melhor. Toda a dimensão prende os sentidos, para além da audição das composições. Realmente, foi um belíssimo espectáculo que recomendo a todos, mesmo que noutra oportunidade e noutro ambiente, desde que seja uma super-produção.

Inolvidável foi, também, o grandioso espectáculo de B.B.KING, com a colaboração de Rui Veloso na Praça Sony, na Expo98. Uma massa compacta de pessoas, sem espaço para nem mais um isqueiro, a delirar com os inesquecíveis e ímpares do grande mestre e do aprendiz Rui. Em certos momentos, o som era simbiótico, como se fossem acordos gémeos. Sinceramente, não sendo eu apreciador de Blues, não me esqueço de acordes que naquele dia saíram daqueles instrumentos. O ambiente acústico, o ambiente atmosférico, o ambiente humano, tudo se conjugou para um dos melhores espectáculos, quer no âmbito da Expo, quer no âmbito da carreira do músico norte-americano. Muito, muito bom.  

BLONDIE. No mesmo recinto do anterior, em 29/06/1998, na Praça Sony. Foi aquando do hit “Maria”, que Debbie Harry reuniu novos e velhos que seguiam a música dos anos 80. Depois de um sucesso meteórico, a relação amorosa da vocalista com o companheiro de sempre superiorizou-se à carreira. Nesta fase, já de ocaso, a banda demonstrou o porquê do sucesso obtido. Hits atrás de hits. Recordações atrás de recordações. Uns momentos bem passados e em simbiose perfeita na relação directa entre nostalgia e recordações. Por acaso, devido ao credenciamento que tinha, atribuído pelo Jornal Amadora-Sintra, do meu inestimável amigo, colega de escrita e professor Altino Cardoso, assisti ao dito de um local com acesso aos bastidores. Os olhos, sendo uma parte dos sentidos utilizados num concerto, ainda que complementar, ajudaram a marcar este desempenho na memória. 

Completamente diferente e numa onda híbrida, que me cativou no final do século XX, em virtude da mistura entre hard-rock e tecno, não só pela música em si, mas também pela panóplia de efeitos visuais. Refiro-me aos alemães RAMMSTEIN e o seu desempenho no Coliseu dos Recreios de Lisboa, em Junho de 2001. Recuperei, o ambiente do Punk do final dos anos 70, pois a fauna nocturna que cirandava em torno do recinto, apelava ao look agressivo, protestante, revolucionário desses anos, da minha juventude final, ou o fim da adolescência ou seja, quando deixei de ser teenager.   

Para além, de outros espectáculos que vi, mais ou menos recentemente, e faço questão de não esquecer, ou que os vi na fase da juventude das bandas que tal qual o escriba, eram mais movimentados e pujantes em palco que o que demonstraram mais recentemente. Refiro-me aos muito badalados Festivais Remember. Coisas da idade. Desses tempos inenarráveis, retenho pela empatia brutal entre os espectadores e as bandas: IRON MAIDEN, METTALICA e SCORPIONS. Pela execução melódica, STRANGLERS; pela moda e habilidade total, ALPHAVILLE, SPANDAU BALLET, GO GRAAL BLUES BAND (que deu um mini-espectáculo, na antiga sala de exposições, no edifício da Câmara Municipal da Amadora e aquilo foi o fim do mundo, credo!), XUTOS & PONTAPÉS, HERÓIS DO MAR, TÁXI e muitos outros, em Lisboa ou na Amadora. Um destes dias, ao vasculhar os meus arquivos fotográficos, dei de caras com slides de ELBA RAMALHO no primeiro espectáculo, dela em Portugal, produzido pelo meu amigo e ex-patrão Chico Maciel para o qual trabalhava na OAE (Organização e Animação de Espectáculos). Música e ritmo brasileiros daqueles que não se esquecem.

Outros concertos de bandas que nem sequer se lembram no extinto Rock Rendez-Vous, onde assisti ao primeiro concerto com Mosh no cardápio, no qual involuntariamente, participei. Fiquei tão amassado e dorido que nem sequer imaginam. Estávamos em 1979/1980. Na sequência destas mazelas resolvi dedicar-me à escrita, que era mais seguro. Também, KAOMA, e toda a sensualidade da Lambada, e não posso esquecer, como já referi noutras oportunidades, SABRINA e o portento erótico quer transmitia. Assisti, igualmente, na Danceteria Lido, a um espectáculo de alta energia dos SNAP.  

Basicamente, foram estes os concertos que, em Portugal me empolgaram e marcaram. Não pretendo valorizar estes face a outros, mas apenas, referir os que deixaram marca indelével que me acompanharam até ao espichar. Ficaram guardados na memória por vários motivos.

Lá fora, não posso deixar de referir, sobretudo, as deslocações a propósito, à Alemanha e duas a Itália. Numa das deslocações a Hamburgo, na explosão do techno hardcore, onde o expoente máximo, os SCOOTER, actuaram em 2001 e, no mesmo ano FANCY, em Munique, por influências várias de anos antes, onde Manfred Alois Segieth produziu inúmeras canções para outros artistas muitos dos quais acompanhei nas tournées em Portugal através da colaboração estreita com a Musicata da Carla Sousa. Bem-haja e obrigadinho. Também não posso esquecer ao que assisti em Berlim, que incluiu FALCO, entre outros, mas que não me lembro o ano, pois, nessa época, andava positiva e objectivamente em órbita. Pois.

Na segunda, EROS RAMAZZOTTI que mais tarde viria a Portugal e TOTO CUTUGNO aquando do início da sua fase decadente. Neste espectáculo, participou o duo AL BANO e ROMINA POWER  o que ainda aumentou as espectativas e o gosto pelas canções boas. Inesquecível, este em 1990 em Verona. O meu gosto pela música italiana, adveio da relação com a minha amiga Maria João Rocha, que entretanto emigrou e foi para Itália viver e fez muito bem. A família continua por Queluz, onde uma das irmãs, a Cátia, esta à frente do restaurante REALMENTE. Foi ela que me ajudou a despertar o gosto pela sonoridade latina.

Finalmente, uma das minhas bandas favoritas. Inglaterra, NEW ORDER, 1993 em Manchester, onde estive uma noite sem dormir por perder o transporte da imprensa, rodeado de mal emborcados o que me fez experienciar in loco as brutais e alucinogénicas ressacas britânicas. Nunca esquecerei o que é uma maratona de 48 horas para ir e vir de/a Portugal, armado em fãn. Lindo! Viva a puta da loucura do final do século passado.

 


Texto: Fernando de Sucena. Também conhecido, ao longo dos anos, no meio musical e jornalístico por: Mário Fernando, Fernando Skinrey, Fernando Alf, Mário Teixeira, Fernando Pires e Repóter Estrábico, que me lembre …

Imagem: Produtores Reunidos/Arquivo

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