terça-feira, 8 de junho de 2021

AS COLECÇÕES DE CROMOS DA MINHA JUVENTUDE

 

Quando eu era pequenino, acabado de nascer, ainda mal abria os olhos… (Grupo Íris) a moda herdada dos pais eram os cromos, e as carteiras ou caixas de fósforos, da Fosforeira Portuguesa ou da Sociedade Nacional de Fósforos. As carteiras eram divididas ao meio e, na primária, serviam para jogar à palmadinha, que consistia, basicamente, em tentar virar a mesma com a descompressão resultante, do levantamento da palma da mão, do chão.

Mas, isso é outra faceta da minha infância. Quero recordar, sim, as colecções de cromos.

Havia umas dezenas de temas e milhares de colecionadores. Na estação do Rossio, na rua, havia profissionais da troca, que consistia em vender avulso, os números em falta, poupando ao interessado umas dezenas de escudos nas carteirinhas de cromos.

As pastilhas Pirata, tinham uma colecção de cromos chamada, AVIÕES A JACTO. Era interessante e eu, que sempre gostei de máquinas voadoras, decorava todos os elementos relativos aos aviões.

Uma das que mais gostei, e infelizmente, por vicissitudes da vida, tive de me desfazer desta, e doutras preciosidades. Falo d’A 200 À HORA. Foi a primeira caderneta que completei depressa, pois, no Liceu da Amadora, o número de coleccionadores era elevado, pelo que as trocas eram fáceis.

As colecções têm uma particularidade à La Palisse. Durante um tempo, no início, é raro ter repetições. Com a redução dos espaços, para encaixar mais uns tantos, a frequência dos repetidos vai crescendo, numa proporção razoável e estudada por alguns técnicos da coisa.

Há uns anos, num dos part-times que tive, para a Mabilgráfica, na Amadora, a ensacar cromos com as caricaturas de jogadores da bola, desenhadas pelo impagável Francisco Zambujal (Jornal A Bola). A dita, chamava-se ARTE E FUTEBOL, e deu para perceber como funciona a frequência estatística da coisa. Por exemplo, se forem 200 cromos, cada molho tiver 200 idênticos, e cada carteira tiver 4, o emparelhamento é casual e aleatório, prevalecendo, depois a quantidade de carteiras, recolhida de cada um dos empacotadores. Quando o comerciante recebe a caixa, a probabilidade de ter alguns cromos em quantidade superior a outros é real.

VELOCIDADE & ESPECTÁCULO. Outra colecção para os marados dos automóveis e motos. Não foi bem o mesmo sucesso da outra, A 200 À HORA, mas, em contrapartida, o número de modalidades motorizadas era maior: Speedway, Rallye, Fórmulas, entre outras. Este género de colecção não singrou.

ESPAÇO 1999. Esta foi a única série televisiva de ficção científica, que me marcou e gostei. Ainda hoje vejo e revejo, uma e outra vez, graças ao CD. Como é lógico, quando saíram os cromos, vai de os coleccionar. E, depois de uma vida inteira a pesquisar, consegui, há uns anos a maquete, em kit, do Eagle (a mais bela nave espacial, criada para filme, na minha modesta opinião). Nunca completei a caderneta.

Incompleta, também, a HISTÓRIA DE PORTUGAL, da Agência Portuguesa de Revistas. Foi minha estreia no coleccionismo de cromos. Na época, aprendia-se alguma coisa sobre as primeiras tribos ibéricas; as grandes figuras da nacionalidade e as conquistas racistas ou não, entre outros acontecimentos fundamentais da nossa História. Era quase uma tradição juntar estes cromos, até porque, quando era juvenil, uma das primeiras fases da socialização, era temos de falar e conviver uns com os outros, nem que seja para trocar. Quando era necessário, porque o desespero para concluir era grande, até se trocavam três, quatro ou cinco, por um.  

Outro clássico da Agência Portuguesa de Revistas, era o CAMÕES. Também nunca a completei. Era a forma mais simples de entender e perceber a poesia de Camões e os Lusíadas, mesmo sem ser necessário, nos níveis em que andávamos na escola primária. Há semelhança das outras, tive de vender estas recordações. Paciência!

Curiosidades, imagens bonitas, botânica, zoologia, era o ponto forte desta colecção. Chamava-se PANORAMA ZOOLÓGICO, e eram uns cromos em papel brilhante atraente ao olhar e suave ao tacto. Esta colecção servia de guia para o entendimento do que são as famílias, categorias, grupos e sub-grupos de classificação das espécies. O mais interessante, era as alternativas das espécies animais que substituíam as comuns e mais conhecidas da savana africana, por outros menos conhecidos e, quiçá, mais interessantes e estranhas. Esta, completei-a, e gostei. 

A insuspeita Olá, também teve uma colecção de autocolantes chamada CÃES DE RAÇA. Trocavam-se os pauzinhos pelos cromos. Juntei-os, mas nunca cheguei a completar a caderneta, porque o amigo Silva, do café familiar de sempre, a Leitaria Ideal Lafonense, na Rua Cândido dos Reis, na Amadora, oferecia-me os que podia, mas nunca deu para trocar porque quase ninguém juntava aquela cena. Achei interessante, apenas.

TOP OF THE POPS. Forma extremamente original de coleccionar. A caderneta não tinha números, nem categorias, pelo que podíamos orientar a colagem, das figuras, da forma que quiséssemos: bandas; sexo; género musical; país, ou outras. Não a conclui, mas conheci a música de nomes dos anos 60 e estilos que eram comuns nos Estados Unidos e na Europa. Pouco tempo depois, surgiram as revistas dedicadas à música como a Música & Som. Foi uma renovação do espírito colecionador da infância.

Completei a seguinte colecção chamada: MOTOCICLISMO. O Mundo das duas rodas, dos pilotos e dos motociclos. Eram os nomes da moda, os grandes campeões e algumas dicas de mecânica. Afora alguns dados técnicos e estatísticos, era mais uma vulgar colecção de cromos com imagens recolhidas das revistas da especialidade. Esta actuação era vulgar na época. Cheguei a utilizar cadernos da escola com os rostos dos pilotos da Fórmula 1 na capa e uma fotografia do carro e o palmarés no verso. As fotografias eram as que as revistas da especialidade, na época (Volante, Motor e Auto-Mundo) publicavam. Curiosidades, malandras.

A última caderneta que tentei preencher com cromos, foi a que ilustrava em papel os filmes do SANDOKAN. As miúdas, na época, andavam doidas com os olhos azúis do Kabir Bedi, e por conseguinte, eram as principais interessadas nos cromos. O oportunismo, ou a oportunidade de tentar fazer conhecimentos com o sexo oposto, para trocar cromos, saiu mal porque a colecção surgiu perto do final do ano lectivo e, na época em que eu comecei a trabalhar. Azar. Fim da história das cadernetas. Passei a colecionar outras coisas, revistas, jornais, discos, cds, postais, viagens, etc.

Décadas depois, por obrigações parentais, voltei a dedicar-me ao colecionismo. Para ajudar e incentivar, primeiro a filha Brenda, e depois o filho Bruce a completarem as suas primeiras colecções.

Nessa décadas de 90, do século e primeiros anos do século XXI. Eram os TAZOS, os PÓKEMONS, os cromos da BARBIE, e os clássicos de sempre: campeonatos nacionais, europeus e mundiais de futebol da Panini. Mais do que recordar o passado, estes momentos permitiam o estreitar de laços de familiares entre filhos e pais. Pensava eu, na minha ignorância de pai babado. Mais tarde, descobri por um amigo de longa data, que quem não coleccionava cromos, fazia LEGO e o resultado foi mais satisfatório.

E com isto, meus caros e minhas caras, dou por encerrado este capítulo da minha vida. Foi o que foi!

Texto: Fernando de Sucena

Imagens: Arquivo/Produtores Reunidos


 

 

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