Tinha, por aí uns 16 ou 17 anos, quando ainda me chamava Mário Teixeira, fui responder a um anúncio, em Campolide, que havia encontrado nas páginas do saudoso DIÁRIO DE NOTÍCIAS, o velho, que empregou mais gente que o acanhado IEFP. No regresso da entrevista na empresa, que não me seleccionou, ao chegar à estação de comboios de Campolide, confrontei-me com a falta de uns míseros 20 centavos (actualmente) para adquirir o bilhete de regresso à Amadora.
Um bilhete era ainda assim um custo significativo. Em 1960, $ 1000 escudos, eram qualquer coisa como € 428 euros, hoje em dia.
Nessa época, de liberdade maluca, exageros esquerdistas quanto aos direitos dos trabalhadores e obrigações dos patrões, adquirir o título de transporte, era sinal de respeito pelas instituições e pelo trabalho dos outros. Nada de borlas, penduras ou ginástica macaca, para saltar pórticos e estragar os mesmos, ou infectar, com aquelas patorras nojentas as bases de leitura dos passes.
Estava eu a preparar-me para fazer uns oito quilómetros a pé entre Campolide e a Amadora, o que era vulgar numa época de greves à bruta, com o túnel fechado e tudo. Saia eu de fininho da bilheteira, com balcão em mármore, dos quais restam alguns, nomeadamente um quase original na estação de Sintra, quando um senhor, na casa do 40 anos, se acercou de mim, inquirindo-me das causas da minha aflição, sobre o que tinha vindo fazer e como chegara.
Surpreendido com a atitude do fulano, e depois de lhe responder com a sinceridade que a situação criara, o benfeitor, que nunca soube como se chamava, comprou-me um bilhete. No caminho, disse-lhe que há chegada liquidaria a verba despendida. Quando cheguei à estação Amadora, tratei de pedir emprestada, por umas horas, a quantia que o senhor gastara, no quiosque da estação, que era de uma amiga minha. Solicitei-lhe que aguardasse uns segundos, para lhe devolver o preço da viagem. Todavia, apercebendo-se das minhas intenções do compromisso e da verdade dos factos que lhe apontara, desapareceu num ápice, misturando-se com no magote de pessoas que desembarcara na estação ferroviária.
Nunca me esqueci do gesto, que ainda hoje, me faz ter uma réstia de esperança, de que entre mais de 8 mil milhões de pessoas, deverão existir uns milhões de pessoas desinteressadas e altruístas. Ainda bem.
Em Maio de 1978, 5147 escudos ($ - cifrão), equivaliam a 100 euros (€) em Junho de 2020.
Se quiser divertir-se com conversões e equivalências monetárias e brincar a ministro das finanças, armando-se em Mário Centeno, aceda aos links seguintes e... olhe gaste sem pensar no amanhã.
Texto: Fernando de Sucena
Imagem: Google
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