Há quem tenha a mania da
intelectualidade, do ser erudito ou inteligente. Eu tenho um pouco dessa mania,
mas acrescento um sórdido sentido de humor irónico. Isto reflete-se na forma
como, vejo o mundo, as coisas, as pessoas, enfim, a vida. Tudo me faz rir, tudo
me diverte, tudo é caricato e todos são palhaços, neste país de brincadeira.
Deste modo, aquilo que se designa por livros de cabeceira, ou leitura de
descontracção, esvoaçam em torno das maiores parvoíces e das maiores necedades.
De seguida, uma lista de livros
que ainda hoje, nalguns casos, passados muitos anos, são actuais e divertidos.
História de Portugal em
Disparates – Este livro resume as maiores barbaridades escritas pelos
brilhantes alunos das escolas portuguesas, desde algumas décadas atrás, numa
época em que os alunos eram mais cultos e mais absorventes da cultura. É sempre
curioso ver como estas cabecinhas pensadoras, deduzem coisas que nem um
criativo de topo se alembrava de fazer. Sabe bem, de tempos, a tempos, recordar
estas coisas. Luís Mascarenhas Gaivão publicou a primeira edição em meados da
década de 80, na editora Publicações Europa-América, onde tive o prazer de
trabalhar na gráfica desta a EUROPAM, com condições e vencimento excepcionais,
diga-se em abono da verdade.
O Pequeno Livro dos Grandes Insultos
– Como e de que forma devemos insultar os outros. Este livro
com alguns anitos,
veio substituir o Dicionário de Calão, que durante muitos anos, me recordava a
génese da asneira e do palavrão que transitou dos anos 60/70, para os anos
80/90. A cada classe social um insulto específico. Volta, não volta, lá vou eu
todo lampeiro, com olho de mineiro, explorar mais umas pagelas do livro de
Manuel S. Fonseca, sendo que o exercício mental seguinte a cada leitura é
inventar provérbios e ofensas novas.
O Livro do Filho da Puta – Esta
obra que se lê amiúde e em diagonal, explora a característica mais nacional que
é a de sermos todos, sim TODOS, de alto a baixo da sociedade, uns filhos da
puta. Em escalas diferentes, na proporção inversa à importância de que alguns
têm em relação a outros, ninguém escapa. Manuel Maria Tolentino editou a
primeira edição em 2002. É bom descobrirmos qual a frase que podemos atribuir a
quem conhecemos. É descontrair, meditar na coisa e dormir descansado…
Era Proibido – É um dos livros
mais recentes, que no entanto, tem a particularidade de ser uma achega ao
CHEGA, e recuperar o que de melhor o país tinha no antigamente, no tempo da
outra senhora. Multas a eito, respeito a tudo, uma vida regrada e feliz, sem
aberrações sexuais, sociais, pessoais e políticas. Seria curioso ver qual a
percentagem do PIB, que se os governos mais recentes impusessem, como receita
fiscal, a coima obrigatória para os prevaricadores. Leitura saudosista e
delicadamente nostálgica. António Costa Santos, diz coisas séris com estilo humorista, sendo esta a
característica principal do autor.
A Causa das Coisas de Miguel
Esteves Cardoso, ligado ao extinto jornal O Independente e à revista K. Em
1986, era eu sócio do Circulo de Leitores e este foi um dos primeiros livros
que comprei. A sequência e cadência com que Miguel Esteves Cardoso explora os
mais pequenos temas leva, a querer ler o livro de uma assentada só. A escrita é
única e marca uma visão bastante crítica sobre tudo o que nos rodeia. Aqui
encontra-se na simplicidade a maior complexidade de ver o mundo que nos rodeia.
É bom ver como crónicas de décadas passadas continuam actuais. Ou, o país
continua na mesma, hesitante, entre o parolo e a flostria, ou, continua ser o
mesmo de sempre. Na dúvida, ler!
Memórias de Jornalista – Um livro
de um dos meus maiores amigos, que resume muitas crónicas mordazes e incisivas
publicadas, ao longo e mais de uma década no Jornal Amadora-Sintra. Um olhar
arguto e mordaz do Altino Moreira Cardoso, meu professor e profícuo escritor.
Cada texto remete-me para uma época específica, pois colaborei nesse jornal de
peito aberto. Se calhar demais. É que a nova Pide rosa começou a apertar o laço
da liberdade e da denúncia fundamentada por esta altura, antes de 2008, a data
da compilação das prosas e crónicas do autor, que possui um dos livros mais
esmiuçados sobre o fundador desta nação: D Afonso Henriques, os Mistérios e a
Lógica.
O Homem Que Mordeu o Cão – Um dos
primeiros sucessos que Nuno Markl deu ao prelo, com a sua forma estapafúrdia de
analisar as notícias mais insólitas e excêntricas, que iam surgindo na
imprensa. O mais curioso é que ainda hoje, algumas são semelhantes a outras,
que novos autores protagonizam e que confirmam que a estupidez e o universo são
infinitos. Com o advento na net e da generalização dos clips e das câmaras,
cada vez mais as pessoas perdem o juízo. Sempre que releio algumas das
estórias, passo uns momentos extraordinários, com um livro nas mãos. Um livro é
uma coisa insubstituível, pela facilidade de acesso, pela portabilidade e pela
facilidade de leitura. Ainda bem que nasci no tempo da leitura, em papel.
Os Contos do Gin-Tonic – São um conjunto
de contos surrealistas, bizarros e hilariantes, do impagável Mário-Henrique
Leiria. Pelo simples facto de reler algumas passagens, sou catapultado para os
anos 70 e 80 do século passado, com o incontornável programa do extinto Mário
Viegas “Palavras Ditas” e ainda mais antes, o Pão Com Manteiga. Dessa época
apenas a memória dos referidos programas. Mas…
Os Novos Contos do Gin-Tonic –
Continuação, noutra antologia de mais contos do poeta e pintor. Contos que não
são bem contos, e que a meio da narrativa lembram-me outos livros de bizarria e
excentricidade, como os de Edgar Allan Poe, ou Arthur Conan Doyle. Em relação
ao primeiro, quem quiser experimentar algo de diferente, junte o livro de Poe à
música de Alan Parsons (álbum, Tales of Mystery and Imagination). Esta
experiência, digamos, imersiva, foi pioneira muito antes dos óculos de
realidade virtual. Ah, pois é! É que utilizar três dos cinco sentidos, em
simultâneo, é fantástico.
Caderneta de Cromos – Outra obra
de Nuno Markl que reúne o melhor da avaliação de símbolos e modas dos anos 80.
Discos, revistas, artistas, filmes e demais actividades culturais que marcaram
os canastrões e canastronas nascidos nos anos 60 e 70. Comentários e exposições
complementares que nos remetem, para esses anos de ouro. Os anos 80 foram,
ainda assim, melhores do que os loucos anos 20, que estão a ser centenários,
como os nossos avós. Estes recontos, lançam-nos para a época em que a tusa, por
quase tudo, era enorme o que fazia com que nos arriscássemos em demasia, em
busca da felicidade, dos sonhos …
As Lições do Tonecas – do
impagável José de Oliveira Cosme. Esta edição que guardo com muito carinho dos
anos 60, herdei-a da minha avó materna, que me assegurou que, a minha mãe, além
de ter lido o livro ouvia, por vezes, estas tiradas do Tonecas, o avô das
piadas do Joãozinho, que eram criadas para o grande veículo de comunicação: a
rádio. No caso, o Rádio Clube Português (RCP) que tantas saudades deixou aos
mais antigos que, cresceram com estas coisas do éter. Diálogos engraçados, de
um puto com a resposta desarmante na ponta da língua, tal qual a Mafalda mais
tarde, noutro contexto. Este sim, é um dos casos de um livro que me acompanha a
vida toda. Por falar nisso. Onde é que o guardei!? Já não me lembro. Li
passagens, no Verão passado.
Texto: Fernando de Sucena (ex Mário
Fernando, antigo Mário Teixeira, outrora Fernando Alf ou Fernando Pires, também,
conhecido por Fernando Skinrey, Falso Preto …)
Imagens: Arquivo/Produtores Reunidos


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