terça-feira, 30 de junho de 2020

OS LIVROS QUE… (DESDE QUE ME LEMBRO) SEMPRE LI E VOU LENDO


Há quem tenha a mania da intelectualidade, do ser erudito ou inteligente. Eu tenho um pouco dessa mania, mas acrescento um sórdido sentido de humor irónico. Isto reflete-se na forma como, vejo o mundo, as coisas, as pessoas, enfim, a vida. Tudo me faz rir, tudo me diverte, tudo é caricato e todos são palhaços, neste país de brincadeira. Deste modo, aquilo que se designa por livros de cabeceira, ou leitura de descontracção, esvoaçam em torno das maiores parvoíces e das maiores necedades.

De seguida, uma lista de livros que ainda hoje, nalguns casos, passados muitos anos, são actuais e divertidos.   

História de Portugal em Disparates – Este livro resume as maiores barbaridades escritas pelos brilhantes alunos das escolas portuguesas, desde algumas décadas atrás, numa época em que os alunos eram mais cultos e mais absorventes da cultura. É sempre curioso ver como estas cabecinhas pensadoras, deduzem coisas que nem um criativo de topo se alembrava de fazer. Sabe bem, de tempos, a tempos, recordar estas coisas. Luís Mascarenhas Gaivão publicou a primeira edição em meados da década de 80, na editora Publicações Europa-América, onde tive o prazer de trabalhar na gráfica desta a EUROPAM, com condições e vencimento excepcionais, diga-se em abono da verdade.

O Pequeno Livro dos Grandes Insultos – Como e de que forma devemos insultar os outros. Este livro 
com alguns anitos, veio substituir o Dicionário de Calão, que durante muitos anos, me recordava a génese da asneira e do palavrão que transitou dos anos 60/70, para os anos 80/90. A cada classe social um insulto específico. Volta, não volta, lá vou eu todo lampeiro, com olho de mineiro, explorar mais umas pagelas do livro de Manuel S. Fonseca, sendo que o exercício mental seguinte a cada leitura é inventar provérbios e ofensas novas.  

O Livro do Filho da Puta – Esta obra que se lê amiúde e em diagonal, explora a característica mais nacional que é a de sermos todos, sim TODOS, de alto a baixo da sociedade, uns filhos da puta. Em escalas diferentes, na proporção inversa à importância de que alguns têm em relação a outros, ninguém escapa. Manuel Maria Tolentino editou a primeira edição em 2002. É bom descobrirmos qual a frase que podemos atribuir a quem conhecemos. É descontrair, meditar na coisa e dormir descansado… 

Era Proibido – É um dos livros mais recentes, que no entanto, tem a particularidade de ser uma achega ao CHEGA, e recuperar o que de melhor o país tinha no antigamente, no tempo da outra senhora. Multas a eito, respeito a tudo, uma vida regrada e feliz, sem aberrações sexuais, sociais, pessoais e políticas. Seria curioso ver qual a percentagem do PIB, que se os governos mais recentes impusessem, como receita fiscal, a coima obrigatória para os prevaricadores. Leitura saudosista e delicadamente nostálgica. António Costa Santos, diz coisas séris  com estilo humorista, sendo esta a característica principal do autor.
 
A Causa das Coisas de Miguel Esteves Cardoso, ligado ao extinto jornal O Independente e à revista K. Em 1986, era eu sócio do Circulo de Leitores e este foi um dos primeiros livros que comprei. A sequência e cadência com que Miguel Esteves Cardoso explora os mais pequenos temas leva, a querer ler o livro de uma assentada só. A escrita é única e marca uma visão bastante crítica sobre tudo o que nos rodeia. Aqui encontra-se na simplicidade a maior complexidade de ver o mundo que nos rodeia. É bom ver como crónicas de décadas passadas continuam actuais. Ou, o país continua na mesma, hesitante, entre o parolo e a flostria, ou, continua ser o mesmo de sempre. Na dúvida, ler! 
 
Memórias de Jornalista – Um livro de um dos meus maiores amigos, que resume muitas crónicas mordazes e incisivas publicadas, ao longo e mais de uma década no Jornal Amadora-Sintra. Um olhar arguto e mordaz do Altino Moreira Cardoso, meu professor e profícuo escritor. Cada texto remete-me para uma época específica, pois colaborei nesse jornal de peito aberto. Se calhar demais. É que a nova Pide rosa começou a apertar o laço da liberdade e da denúncia fundamentada por esta altura, antes de 2008, a data da compilação das prosas e crónicas do autor, que possui um dos livros mais esmiuçados sobre o fundador desta nação: D Afonso Henriques, os Mistérios e a Lógica. 

O Homem Que Mordeu o Cão – Um dos primeiros sucessos que Nuno Markl deu ao prelo, com a sua forma estapafúrdia de analisar as notícias mais insólitas e excêntricas, que iam surgindo na imprensa. O mais curioso é que ainda hoje, algumas são semelhantes a outras, que novos autores protagonizam e que confirmam que a estupidez e o universo são infinitos. Com o advento na net e da generalização dos clips e das câmaras, cada vez mais as pessoas perdem o juízo. Sempre que releio algumas das estórias, passo uns momentos extraordinários, com um livro nas mãos. Um livro é uma coisa insubstituível, pela facilidade de acesso, pela portabilidade e pela facilidade de leitura. Ainda bem que nasci no tempo da leitura, em papel. 

Os Contos do Gin-Tonic – São um conjunto de contos surrealistas, bizarros e hilariantes, do impagável Mário-Henrique Leiria. Pelo simples facto de reler algumas passagens, sou catapultado para os anos 70 e 80 do século passado, com o incontornável programa do extinto Mário Viegas “Palavras Ditas” e ainda mais antes, o Pão Com Manteiga. Dessa época apenas a memória dos referidos programas. Mas… 

Os Novos Contos do Gin-Tonic – Continuação, noutra antologia de mais contos do poeta e pintor. Contos que não são bem contos, e que a meio da narrativa lembram-me outos livros de bizarria e excentricidade, como os de Edgar Allan Poe, ou Arthur Conan Doyle. Em relação ao primeiro, quem quiser experimentar algo de diferente, junte o livro de Poe à música de Alan Parsons (álbum, Tales of Mystery and Imagination). Esta experiência, digamos, imersiva, foi pioneira muito antes dos óculos de realidade virtual. Ah, pois é! É que utilizar três dos cinco sentidos, em simultâneo, é fantástico.

Caderneta de Cromos – Outra obra de Nuno Markl que reúne o melhor da avaliação de símbolos e modas dos anos 80. Discos, revistas, artistas, filmes e demais actividades culturais que marcaram os canastrões e canastronas nascidos nos anos 60 e 70. Comentários e exposições complementares que nos remetem, para esses anos de ouro. Os anos 80 foram, ainda assim, melhores do que os loucos anos 20, que estão a ser centenários, como os nossos avós. Estes recontos, lançam-nos para a época em que a tusa, por quase tudo, era enorme o que fazia com que nos arriscássemos em demasia, em busca da felicidade, dos sonhos …
 
As Lições do Tonecas – do impagável José de Oliveira Cosme. Esta edição que guardo com muito carinho dos anos 60, herdei-a da minha avó materna, que me assegurou que, a minha mãe, além de ter lido o livro ouvia, por vezes, estas tiradas do Tonecas, o avô das piadas do Joãozinho, que eram criadas para o grande veículo de comunicação: a rádio. No caso, o Rádio Clube Português (RCP) que tantas saudades deixou aos mais antigos que, cresceram com estas coisas do éter. Diálogos engraçados, de um puto com a resposta desarmante na ponta da língua, tal qual a Mafalda mais tarde, noutro contexto. Este sim, é um dos casos de um livro que me acompanha a vida toda. Por falar nisso. Onde é que o guardei!? Já não me lembro. Li passagens, no Verão passado.

Texto: Fernando de Sucena (ex Mário Fernando, antigo Mário Teixeira, outrora Fernando Alf ou Fernando Pires, também, conhecido por Fernando Skinrey, Falso Preto …)

Imagens: Arquivo/Produtores Reunidos


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