Muito se
fala, presentemente, na ocupação do exclusivo espaço do Panteão Nacional com
qualquer cromo que Abril revelou.
O Panteão
Nacional, situado na zona histórica de Santa Clara, ocupa o edifício
originalmente destinado para igreja de Santa Engrácia, acolhendo os túmulos de
grandes vultos da história portuguesa.
Fundado na
2ª metade do século XVI, o edifício foi totalmente reconstruído em finais de
Seiscentos pelo arquiteto João Antunes; embora nunca chegasse a abrir ao culto,
conserva, sob a cúpula moderna, o espaço majestoso da nave, animada pela
decoração de mármores coloridos, característica da arquitetura barroca portuguesa.
Elemento referencial no perfil da cidade e oferecendo pontos de vista
privilegiados sobre a zona histórica da cidade e sobre o rio Tejo, está
classificado como Monumento Nacional.
Na sua
proximidade realiza-se semanalmente, às 3ªas feiras e Sábados, a tradicional
Feira da Ladra, e qualquer dia até se poderá alugar o espaço para esta
actividade comercial, acompanhada com uns espaços de restauração, com o
patrocínio de uma qualquer fábrica de ‘bejecas’ e protegendo os vendedores das
intempéries.
A História é
feita de muitas personagens. A cultura é desenvolvida por muitas mentes
eruditas. A sociedade, a medicina, a ciência e a tecnologia são bastantes vezes
apoiadas numa ideia realmente diferenciadora e decisiva no desenvolvimento da
Humanidade.
É destes
vultos que falamos. E Portugal tem alguns. Mas, daí até qualquer gajo muito
badalado nos jornais e nas televisões, durante alguns anos, ir para um espaço
que, supostamente é ímpar, vai uma distância enorme independentemente de
produzir riqueza para a nação.
A lei prevê
que as “honras do Panteão” se destinam “a homenagear e a perpectuar a memória
dos cidadãos portugueses que se distinguiram por serviços prestados ao país, no
exercício de altos cargos públicos, altos serviços militares, na expansão da cultura
portuguesa, na criação literária, científica e artística ou na defesa dos
valores da civilização, em prol da dignificação da pessoa humana e da causa da
liberdade”.
Sophia Mello
Breyner; Eusébio da Silva Ferreira; Aquilino Ribeiro; Humberto Delgado; Manuel
de Arriaga; Teófilo Braga; Sidónio Pais; Óscar Carmona; João de Deus; Almeida
Garrett e Guerra Junqueiro, estão lá trasladados. Alguns, não se entende, o
porquê da sua presença.
No Panteão,
encontram-se ainda cenotáfios - arcas tumulares de homenagem sem corpo -
evocando as figuras de Luís de Camões, do infante D. Henrique, de D. Afonso de
Albuquerque, Vasco da Gama e Pedro Álvares Cabral. Compreensível.
O que é mais
discutível são os nomes que se apontam para a última vaga existente, até ver:
Salgueiro Maia; José Afonso; Aristides Sousa Mendes e José Hermano Saraiva. O
que é que eles fizeram de importante? Em que é que o país ficou mais
desenvolvido? Porquê estes e os que lá estão e não outros. As personagens são
colocadas ao sabor das maiorias parlamentares.
Já agora,
seria interessante repensar o conceito e a História, e repensar o espaço com um
aumento substancial de recortes para triplicar a capacidade do aterro ósseo.
Com o
financiamento em sistema de PPP, convirá começar já as obras de alargamento,
melhoramento e beneficiação, antes que o espaço seja ocupado com alojamento
local ou um hostel de luxo como a estação de comboios do Rossio. Até porque,
quando se fala de desvios orçamentais a referência popular remete logo para as
obras de Santa Engrácia. Pois!...
![]() |
| O Panteão, pertinho do sítio onde vivi os primeiros anos de vida |
Ademais, com
espaço em barda podemos colocar futuramente, no espaço (se ainda existir daqui
a 20 anos), o Cristiano Ronaldo, o quebra bilhas do futebol; José Sócrates, o
rei dos off-shores; Camilo Mortágua, o terrorista reformado; Bruno de Carvalho
o incendário; o Eng. do Penta e campeão da Europa ou José Vilhena; Oliveira
Salazar; Mário Soares; Álvaro Cunhal, Tony Carreira; Maria Leal e umas tantas
figuras da esquerda caduca, com a memória eterna de progressista. E nuns tantos
cenotáfios, Viriato; D. Afonso Henriques; Zé do Telhado; Luís Goucha, entre
outras figuronas, muitas delas aberrações de género.
Já agora
guardem um espaço para mim mesmo, porque estou a caminho de me tornar o
primeiro anti-antifascista do país a ser detido e assassinado, pelo que
passarei a ser o primeiro mártir nacionalista da pseudo-democracia lusitana.
Por isso, posso ir para o Panteão do pessoal. Até porque sou amigo, vizinho e
conhecido de uma data de malta da política que se arrastou dos anos 60, onde
fomos fabricados até ao século XXI. Mais. A finalizar. Vivi ali mesmo, mesmo
pertinho enquanto puto. Ah, pois!...
Texto:
Fernando de Sucena
Texto
publicado originalmente da edição on-line do XOK Magazine.

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