Após o 25 de Abril de 1974, e
contrariando a ideia pré-feita de acabamento com a miséria e com os ordenados
de miséria, criou-se essa ferramenta aberrante do ordenado mínimo, bisavô do
pagamento da inépcia e da estupidez.
Super-qualificados a ganhar o mesmo
que imberbes, solteiros a gastar à tripa forra em gajas, metanfetaminas e
telecomunicações em oposição a casados, verdadeiros sustentáculos da família
mais ou menos disfuncional, sem dinheiro para satisfazer as necessidades mais
básicas.
Os escalões de vencimento acima,
desde tão miraculoso ordenado mínimo, não compensam os anos de serviço dos
funcionários mais antigos e sapientes, eu vão perdendo estímulos e motivação
pelo desaparecimento dos níveis entre os anos de trabalho e a produção obtida,
face aos novos que entram a ganhar o mesmo ou mais, mas sem mais-valias.
A imposição contra-natura do
ordenado mínimo, definida pela esquerdalha abrilista, veio deturpar e
conspurcar o mérito, o esforço e, também, não tenhamos medo em o dizer, o
reconhecimento do patronato face aos mais esforçados. Antigamente, sem
ordenados mínimos havia respeito institucional e valorização humana. Agora, é
cada um por si e a ver quem mais engana, sendo que é mais difícil ser patrão do
que um qualquer mal-empregado.
O ordenado mínimo veio empobrecer
a classe média e estragar a qualidade dos serviços, em especial o
serviço-público. Todos deviam começar pelo mais barato possível e ir subindo
mercê do desempenho e não como acontece agora, pelo tempo de contrato.
Esta subversão, do pagamento do
tempo de trabalho é terrorismo social do mais primário. Nunca, como agora, se
viu tanto compadrio assalariado e corrupto, devido ao facto de a incompetência
ser remunerada de forma simples e igualitária. O comum no século XXI é
despedir-se um funcionário antigo, competente e que até produz, só porque ganha
o que merece e não o ordenado mínimo, e trata-se de o substituir por outro mais
barato e mais burro. E assim, perde-se na qualidade, e com o passar do tempo
tudo piora.
Se não fosse este brilhante
pensamento, anti-fascista, não teríamos a quantidade medível em toneladas, de
carne política a ganhar chorudos ordenados (mínimos em termos europeus) pois a
grande maioria de Varas, Sócrates, Relvas e quejandos, continuariam a exercer
as suas actividades administrativas regulares, subindo na hierarquia a pulso,
como muito bem se preconizou na inicial República.
Este fetiche do ordenado mínimo
está a estragar a economia, a sociedade e a hipotecar o futuro das gerações
vindouras, pois a Segurança Social não pode financiar reformas chorudas para
uns quantos e miseráveis para a maioria, inda assim, desviando minúsculas
parcelas da grande maioria dos colocados no fundo da pirâmide dos trabalhadores
para a engorda dos que se encontram no topo, sobretudo, os que se intitulam autarcas,
políticos.
Não critico a aplicação de uma
base de ordenado de trabalho, mas sim a forma como é aplicada à tôa a administradores
de ‘coisas’ do estado.
Se, o Estado preconiza os
escalões, as carreiras e os índices, sem que isto seja benéfico, como podem os
privados dizer não? Acontece que, funcionários públicos de décadas ganham bem
menos que os que entram para a mesma categoria agora. Isto é anormal, absurdo e
ignóbil. Isto é gozar com quem trabalha e com quem necessita de sobreviver.
Se querem impor a regra do
ordenado mínimo, criem-se tabelas como as que existem para os sugadores
económicos arregimentados no RSI, no PSI, no PCI e, porque não, de acordo com o
nível em que se encontram na PDI? Assim, um gajo que só quer trabalhar uns
tempos para ter direito ao subsídio de emprego, não deve ganhar o mesmo, de
inicio, que um tipo que está há um ror de anos no batente e que até ensinou o
gajo anterior. A experiência a dedicação, o mérito e o valor têm, devem ser
valorados, já que o reconhecimento hoje em dia é uma palavra tão condenável
como vergonha.
Acabando com o ordenado mínimo
dado sem critérios, melhorar-se-á a economia, a qualidade do trabalho e
aumenta-se a motivação pois, a décalage entre experimentados e eficientes
funcionários, e os outros, tenderá a aumentar permitindo separar o trigo do
joio.
É que, ainda sou do tempo em que
havia aprendizes de balcão que subiam até gerente de loja com melhorias
substanciais no vencimento em função do tempo na empresa. Ainda sou do tempo em
que um gerente, (não confundir com gestor) antes de chegar ao topo de carreira,
começava pelo, arquivo e pelo expediente. Isso sim, era valorizar, desenvolver
o ego e promover a ambição. Mas, nesse tempo havia inteligência e nem todos
queriam ser doutores para não terem de trabalhar muito...
O trabalho deve ser remunerado de
acordo com os resultados e objectivos pretendidos. Estou-me nas tintas, e vós
devíeis estar igualmente, para o que autor de O Capital, um tal Karl Marx
escreveu no século XIX. O mundo mudou, a produção e os métodos também, as
pessoas igualmente, a filosofia idem. Enfim vivemos num mundo completamente
diferente, em que aberrações politico-sociais, como a obrigatoriedade do
ordenado mínimo não fazem sentido absolutamente nenhum.
Portanto, em jeito de conclusão, enquanto
não se exterminar esse conceito retorcido, discriminatório e inibidor que é o
ordenado mínimo, o país não se desenvolverá. E é pena.
Texto: Fernando de Sucena
Imagem: Google





