Voltei aos anos oitenta do século
vinte. Voltei à veia criativa da escrita. Nessa época irrepetível e
inqualificável, a grande inovação, ao nível da cultura, era a ocorrência de
concursos literários. Alguns, não muitos, mas os suficientes para revelar
escritores e poetas. Aquilo que pretendia era descobrir o talento que
despontava, com a liberdade de expressão. Sobretudo essa.
Nomes agora consagrados nos
escaparates surgiram nesse período de ouro. Foram pioneiros. Foram inovadores.
Foram originais.
Uns sobraram, outros desistiram,
outros retiraram-se, aguardando por outra oportunidade na vida, num futuro
variável.
Pertenço ao último grupo. O grupo
dos que hibernaram, digamos assim. O grupo dos que regressaram com novas
ideias, obras consolidadas na diferença e inovação. Porém, por estranho que
pareça, esses são confrontados, agora, com fartura, sem qualidade.
Em 2025, quando efetuei um estudo
sobre a existência dos concursos de escrita, concluí com grande desapontamento
que a maioria dos prémios são reveladores de uma quase máfia editorial. Os
consagrados entretêm-se a serem cooptados para jurados e a premiarem quase
sempre os mesmos, cujos esses, navegam em círculos pouco evolucionistas.
Ou seja, os do costume açambarcam
os júris e os prémios e as menções, perpetuando-se no tempo, impedindo que
sangue fresco jorre no panorama literário.
Como as editoras livreiros, têm
como objetivo faturar muito e gastar pouco, este sistema é-lhes facilitador. Se
não se gasta muito, mas ganha-se algum. Vamos nessa.
Porém, esses não são os únicos
problemas. Para se ser escritor é necessário, não só saber emendar o corretor
automático incluído no processador de texto, mas conseguir abandonar os
estereótipos do classicismo contemporâneo que produz livros cinzentos,
padronizados e maioritariamente parecidos entre si. Quero com isto dizer, que
se não se apostar em conteúdos inovadores, originais e possuidores de conteúdos
diferenciados entre os escritores, júris e editores, teremos sempre mais do
mesmo.
Escrever é transmitir, não só
emoções, como também ideias por muito absurdas que sejam. A originalidade surge
quase sempre associada a pessoas externas ao sistema, que o próprio sistema não
quer reconhecer. Parece estranho, mas não é.
Volto ao estudo efetuado sobre os
últimos concursos ou prêmios literários abertos no último semestre do ano
passado e o primeiro trimestre de 2025. O panorama é, senão paupérrimo, muito
próximo disso. Temos um caso em que o prêmio é um cartão carregado com 50
euros. Outro pretende promover vultos da freguesia, porém, se for sobre alguém
famoso, simples detalhes da vida do cidadão em causa, revelam ligações ao
escritor, que automaticamente será excluído por não manter o anonimato. Noutro
concurso, as regras são tão complexas que acabamos por não entender o que
acontece, caso haja alguma inconformidade.
Ademais, a questão da publicação
da obra, o que outrora era responsabilidade do promotor da iniciativa, agora o
ónus recai sobre o autor, salvo raríssimas exceções. Algo vai mal no reino da
escrita criativa, quer seja conto, novela, poesia ou romance.
Para concluir a ideia anterior,
esta situação complexa elimina inúmeros autores com alguma qualidade que passou
no crivo restritivo da monotonia, pois nunca terão a sua obra a concurso
nacional para livro do ano, revelação do ano, entre outras distinções, pelo que
essa nomeação recairá sobre um dos habituais mui dignos associados da SPA que
vivem, também disto desde o início dos anos 80.
Nesses eventos carregados de intelectualidade
farsola, as edições próprias, não passam no crivo da avaliação por
incumprimento legal. Um autor que edite as suas obras não é escritor. É um
egoísta que não faz render o peixe. Será isso?
E fico por aqui, sob pena de me
colocarem numa qualquer lista negra da internet com nomes de escritores
malditos e maldizentes, apenas porque dizem as verdades escondidas, ou
encobertas.
Vou continuar a escrever até não
poder mais, independentemente das formas de divulgação e objetivos editoriais.
FS