terça-feira, 12 de novembro de 2019

SOMOS TODOS POTENCIAIS BERARDOS


Quase todos os portugueses, sem excepção, já fizeram a sua vigarice. Antigamente, era eu miúdo, além de palmar umas coisitas insignificantes, no recém-inaugurado e saudoso Pão-de-Açúcar, na Venda-Nova, com os meus amigos, igualmente catraios, da praceta. Ultrapassava a habilidade natural da canalha, para a trafulhice com 13/14 anos, então, com coisitas inocentes à data de hoje. O meu limite vigarista era o de desbloquear o cadeado telefónico que os pais colocavam, para impedirem de falarmos sem limite com a malta. Não havia telemóveis e as linhas desactivadas dos TLP, ainda estavam escondidas nas centrais telefónicas, em migração do analógico/digital para a fibra-óptica. Minudências juvenis.
Também andar na penda no eléctrico ou à borlix no comboio, não pode ser considerado grave, quando os par(a)lamentares andam em classe executiva no avião e recebem subsídios por morarem em casas onde nunca, sequer cagaram.
Até se chegar a ser um Berardo é uma questão de ganância. Nunca ambicionei muito e por esse facto, quiçá, nunca me perdi de amores com grandes furtos ou burlas. Limitei-me a estar sempre em golpitos de merda, mas que eram moda, nas suas épocas respectivas. Umas empresas fictícias, uns recibos verdes enganados, uns engates rentáveis a senhoras respeitáveis, uns trocos tirados nos pratos das gorjetas dos cafés da Baixa e das cabines telefónicas de moeda na Avenida da Liberdade…

Como se pode constatar, coisa pouca, que sempre renderam dores de cabeça. Apenas lucrei processos criminais e cíveis, multas, trabalho comunitário e pouco mais. Claro que nem às paredes confesso, o modus operandis, os sócios, ou as técnicas, mas na década de 70 eram do mais inovador que imaginam. Tivesse eu tido mais disponibilidade ,para conviver com alguns dos cromos da política da minha criação, e a história seria outra. Sempre fui um pouco para o cobardolas e agradeço esse factor temerário imposto pelos pais, para não andar hoje nas bocas do mundo, a ser apontado como mais um filho da puta, a gamar à grande, o povito. Livra!
Ainda bem que, sou descendente de famílias onde só de se pensar em desviar um simples ‘clip’, a fama desse criminoso acto, era tatuada na personalidade. Uma das vantagens de se viver no Estado Novo. Havia muito poucos a roubar e a prevaricar prejudicando a Nação.
Admiro no entanto, os golpistas dos milhões. Daqueles que obrigam o Estado a pedir cada vez mais uns euritos a mais, a todos os portugueses, para financiar buracos de biliões, nos bancos, nos ministérios, nas PPPs etc. e tal. Temos que admirar a genialidade da burla global e gigantesca que os verdadeiros mestres do desvario económico realizam, sem que nos apercebamos de tal antes de ter sido efectuada a coisa. Gostava de ter sido assim, mas prefiro, ser condenado às sevícias da justiça por ser pobre, do que andar livre e com milhões pertencentes a outrem. Milhões aos molhos, só os do euromilhões.  

Texto:Fernando de Sucena 
Imagem: Google

terça-feira, 5 de novembro de 2019

OS FILMES E SÉRIES DA MINHA VIDA


Depois de falar das canções que me marcaram, machucaram e animaram, referirei alguns dos filmes que permanecem da memória ou, por questões de trabalho, (trabalhei durante alguns meses com o produtor Paulo Branco na FILMARGEM, em 1987, indo substituir o meu amigo de infância, Manuel Quelhas, e sendo eu, substituído, mais tarde, por um outro amigo da juventude o Carlos Vivo, nessa empresa cinematográfica. Depois, fui crítico de cinema para a imprensa regional durante alguns anos. E, dessas duas fantásticas experiências, acrescidas ao meu gosto pessoal, resultou, parte da seguinte lista.
Nesta década de 80, era cúmplice das tardes e noites e cinéfilas, o amigo e colega da pena Mário Rui de Melo, actual líder da empresa Formiga Amarela. Filmes como “A Escolha de Sofia”, “África Minha”, foram assimilados porque, o mesmo era e é, fã incondicional de Meryl Streep. Foi com ele que vi uma outra película marcante, no tempo, que não tenha gostado particularmente: “O Beijo da Mulher Aranha”.
E refiro-me, não apenas aos filmes de cinema em salas com centenas de pessoas, mas igualmente, aos cubículos em que praticamente estou só eu e a minha querida esposa. Também, é justo referir que primeiro com o VHS, nos anos 80, e mais tarde com o DVD foi-me permitido recordar filmes de outrora, absolutamente imperdíveis, mas que por variados motivos não consegui na época, vê-los.
 Assim sendo, vejamos as grandes películas para mim…
Não me do primeiro filme que vi sozinho, no cinema ‘piolho’  da Amadora, posteriormente o Cine-Plaza, e que ainda existe como sala cultural, mesmo no centro da cidade. Ir ao cinema sozinho, nos anos 70, era sermos emancipados e responsabilizados. Senti-me um homenzinho e aprendi o que era o balcão, a plateia, a cochia, a matinée e a soirée. Aprendi também, a ter cuidado com os mirones do lado, no mijatório. Enfim, a universidade da vida.
Vi dezenas de filmes em sala e, umas centenas em casa ou em DVD, vídeo ou por cabo. Durante uns anos semanalmente e, eu e o meu grande amigo Joaquim Carlos Lacão (primo do parlamentar do PS) eramos frequentadores assíduos das salas porno, de Lisboa, onde aprendemos a falar italiano. Mas, o único que recordo, tinha um nome sugestivo “No Cetim Já Experimentou?”. Ficou!
Todavia, demorei muito até entrar na frequência regular das salas. Os filmes não me chamavam a atenção, porque sendo muito caseiro era mais a televisão. E dessa a série de culto foi “Espaço 1999” de 1975, onde religiosamente aos sábados à noite, estava na cadeira a ver os episódios. Sim, cadeira porque os sofás, eram muito raros. Antes desta houve o “Daktari”, de 1969 e “O Carrocel Mágico” - uns bonecos engraçados - de 1966. A série foi resposta em 1970 e aí sim vi-a. E pouco mais me lembro. Depois, deu-se o golpe de estado abrilista e foi o caraças! Filmes proibidos que deixaram de o ser, programas e séries de televisão em fila e um gosto cada vez mais refinado.
Sou, igualmente, do tempo em que sem Photoshop, nem impressão digital de grande formato, se pintavam cartazes de cinema em formato mega grande. Eram, também, os anos dos murais revolucionários. O desenho em grande escala era atractivo.


Entre meados de 1995 e 2012, por afazeres profissionais que me deixaram feliz, praticamente deixei o cinema e passei a devorar documentários. Todavia, embora de possa considerar cinema, o documentário não é propriamente arte.
Desta fase mais recente, destaco: “O Nome da Rosa; “O Código Da Vinci” e “O Resgate do Soldado Ryan”.
Mas vamos então aos filmes que me marcaram.
“O Planeta Selvagem” em 1973, que referi noutro contexto no XOK MAGAZINE. Foi o primeiro filme a que assisti como visita de estudo com a professora de Desenho, desse ano, e com o falecido amigo Manuel Monteiro e colega de turma do então o Liceu da Amadora.
O primeiro filme que vi com um bilhete comprado com dinheiro ganho por mim, foi um documentário chamado “Grand Prix”, em 1977.
Mais tarde, além de os ver no cinema, alguns vi-os, através de diversas plataformas e suportes:
“Feios, Porcos e Maus” de 1976; “Alien, o 8º Passageiro” 1979; “A Vida de Brian”, também de 1979; “American Gigolo”, de 1980; “Indiana Jones e Os Salteadores da Arca Perdida” de 1981.
“Scarface - A Força do Poder” de 1983; “O Exterminador Implacável” de 1984; “Amadeus”; “A Guerra do Fogo” e o impagável “Top Secret - Ultra Secreto” todos de 1984, no ano que considero excepcional quanto à qualidade e originalidade, com muitas coisas boas, em géneros diferentes.
“A Missão” de 1986; “O Predador” de 1987; “Mississipi em Chamas” de 1988; “O Jogo” de 1997: “Shrek” de 2001 e “A Noiva Cadáver” de 2005.
Outros que me marcaram, “O Império dos Sentidos” (vi o filme numa noite enquanto exercia as minhas funções de DJ, na Amadora) numa época em que o Canal 18 da TV por cabo era uma sintonia sobrelotada por volta das duas da matina.
“Casablanca”; “Metropolis”; “Ben-Hur”; “2001, Odisseia no Espaço”; “Tempos Modernos”; “Carne Humana Precisa-se”, “Os Miseráveis”, na versão antiga, do excelente romance de Victor Hugo. Igualmente, “The Jetsons”, uma série de desenhos animados e a inquestionável “Pantera Cor-de-Rosa”, promovida pelo vizinho e amigo damaiense, Vasco Granja, com quem passei algumas tardes animadas, enquanto teenager e a série “Kolditz”, são outros títulos marcantes. Apesar de ser um adepto da comédia, estas películas por saírem do género, foram, são e serão, películas imperdíveis e intemporais.

Texto: Fernando de Sucena
Imagem: Google